Ascendo um cigarro, olhar distante, mão no queixo de vez em quando; raro, vinho tinto no copo de base fina e boca larga; de plástico, dedo levantado; quebrado, respostas de lado e blaser de veludo; furado. Só falo de cinema cult, teatro moderno, cabelo milimetricamente desarrumado, roupa trocada 7 vezes na frente do espelho, musica classica, quarto arrumado, casa estéril, móveis minimalistas, e para tudo que eu falo, digo que é apenas uma fase. ASSIM FINJO QUE TENHO CLASSE.
Antes de dormir mais peço que agradeço, sou corriqueiro, reconheço. Só lembro de Deus quando necessário. Passo reto e não me importo com mendigos, pobres, podres, meninos de rua, com você. Falo graças a Deus e/ou ponho a culpa nele para tudo. Cruz de prata no peito porque ta na moda; foda. Leio Nietzsche e a biblia ao mesmo tempo, mas o que padre fala ninguém desmente, acredite: ASSIM FINJO QUE SOU CRENTE.
Falo português como um mongol, mas no metró tento mostrar para todo mundo que leio Molière no original. Fico na porta de um festival de cinema afegão andando sem sentido, posando de instruido. No bar puxo papo sobre metafísica, sem nenhuma meta eu diria. Digo assim só por dizer que a nova safra de artistas modernos é blasé. Entro em galerias de arte e acho demais ferros retorcidos, uma instalaçao com merda de porco e rosas amarelas com titulo tipo: Amanhecer invernal póstumo da matemática espiritual. Acho tudo demais, tudo legal, e mesmo assim não me acho um boçal. ASSIM FINJO QUE SOU INTELECTUAL.
Tenho uma garota chapa quente e fria. Se veste exatamente igual a resvita. Flerta com garçon, com meu amigo, meu pai, meu cachorro. Usa batom vermelho, fuma muito, mostra as pernas, e admito, incriveis pedaços de carne com uma penugem loira delirante. Sempre meio mau humarada, chama atençao, chata, linda, estúpida. Eu sento do lado calado, cigarro, cerveja, celular porque o silêncio constrange. Se acha linda, quer mostrar que se acha linda; é linda. Provoca, e eu olhando pro relógio. Não reclamo. ASSIM FINJO QUE A AMO.
Tenho um cadilac antigo. Uso óculos de grau mas nao preciso. Escuto Franz Ferdinad e acho incrível. No pé All Star quadriculado, surrado, fino. Olho vermelho para parecer drogado, acho lindo. Falo mole gírias que aprendi com o papagaio Pasquale. Gosto de festas anos 80, fumo Lucky Strike, ando em bando, todos iguais, todos fracos. E quando me chamam para pegar uma praia digo que não quero. ASSIM FINJO QUE SOU MODERNO.
Depois de tudo, sozinho no quarto olho pro lado e percebo que não valeu a pena. Logo percebo que também sou mais um escroto. Facilita, porque seguindo ASSIM FINJO QUE NÃO ESTOU MORTO.