Uma rosa extremamente solitária num vasto descampado de terra úmida. É ela, a rosa, o descapado, a terra. Céu cinza, espesso, uma garoa fria e fina cai lentamente, deixando as pétalas e a terra umidas, fazendo desprender assim um aroma de paz e infància. De repente uma flecha luminosa rasga as nuvens de chumbo iluminando unicamente a rosa sem espinhos, feita somente de aroma e cor e uma delicadeza despropositadamente frágil; não chega a secar-la, só a faz desprender mais e mais aroma. O aroma é dela. Uma árvore quase nua se despi completamente de sua ultima folha. É ela; a folha também é ela, bailando no ar com a brisa até deitar-se no chao tranquilamente. Sobraram somente os galhos duros, pontiagudos, solitários, pois a beleza já não estava mais ali, estava deitada no chão tranquilamente. E eu ando, sem destino, apenas ando com uma dor sufocante que me comprime a alma, e de meus olhos brota uma lágrima em flor, é ela, me beijando a face áspera, escorrendo, acariciando meu pescoço e caindo no precipício que distancia meu queixo da terra úmida. A lágrima explode no meu peito, e ali, novamente nascerá uma flor. É ela, novamente. E meu coraçao vazio ecoa seu bater frenético nesse descampado que insisto em chamar de peito. Não há quase nada dentro, só pó e uma rosa fincada num chão úmido. E me afogo. E grito. E por fim silencio, já com diversas rosas em volta de meu corpo que brotou em meus olhos, mas nasceu no chão. Todas, simplesmente todas as rosas é ela. Sentado, sozinho entre flores, entre ela. As vezes sinto um afago que acompanha a brisa que baila envolta de meu corpo. Acho que é sua mão acariciando minha face áspera, consolando esse coraçao desesperado, tentando dizer-me algo, mas sempre, sempre escuto somente o silêncio. O silêncio e a brisa é ela.
Não peço explicações. Só peço que quando chegar minha hora, onde quer que esteja, que ela seja o anjo que venha me buscar, e que minha primeira visão seja seu sorriso delicado, seus olhos puros; uma das mão espalmadas em oferta e na outra, uma rosa para nunca mais me esquecer do caminho.
Hoje consegui sorrir, e só eu sei que o meu sorriso era ela.