Ah, e por falar em flores o ar inunda-se de cores e o vento que bate na janela insiste em entrar pela fresta e congelar minha voz, que no fundo quer gritar as dores de todas as flores mortas; no imensurável jardim de rosas ou no lamaçal. E escuto o tic tac do relógio de ponteiro, querendo demasiadamente mostrar-me que o tempo passa e que sigo ali parado naquela mesma estaçao contando as pétalas das rosas, solitariamente, caídas no chão. O perfume do mundo tem cheiro de aço e chumbo, contrastando com meu cheiro forte e insuportável de desespero. Quantos dias serão assim, repleto de imagens plásticas retorcidas? E eu por ai, tentando purificar-me com cerveza comprada a centavos num supermercado de suburbio. Se eu soubesse explicar eu não escreveria, mas aquí, agora, eu apenas sinto muito. Sinto muito por nós, por ela, por elas, pelo pó esquecido num canto, inaudível. Nossos tropeços não deveriam ser tão grandes. Tropeçamos no fio, na linha, no limear. De um lado chão firme e do outro, ah, quem arriscará dizer-me? Queria voltar no tempo, fazer de novo o feito, reinventar o não feito, esconder nossos erros, mascarar nossa cara pateticamente feia, maquiar nossa vergonha, e poder dizer sem medo, eu te amo, assim, sem meios termos. Mas o tempo passou e ficou um irretocável descuido, um contrato mal feito, um arrepender-se meio de lado; meio sem jeito, e um desencontro no plural mais singular que possa existir. A cerveja esquenta, e assim não vale um puto centavo. Ascendo um cigarro, trago, e reparo na fumaça que se desprende da brasa, espessa, bailando com uma brisa que não sente meu corpo, mas o baile da fumaça a denuncia. É o vento frio entrando lentamente pela fresta para congelar minha voz. E congela...