Estou rompendo com as estruturas vigentes. Nada de saudosismo, sou adepto do sismo sem saudade, permanente é a eterna impermanência e tudo que se dissolve e se transforma; tudo que brota é espera absorvente, num tremor de ritmos que bate os outros em descompasso. Sou o próprio pássaro ferido de aço, um balaço me pós a nocaute mas toda noite, na calada de meu esconderijo, permaneço e sobrevivo e qual fênix, reapareço para os de minha laia.
Os de minha raça chutam latas de absurdo, ciscam guimbas de cigarro, olham de soslaio e malandramente, passam a mão na bunda das meninas sem querer, mesmo sem saber. Sou chutador de seixos, de pedras que saem de meu caminho. Abro minhas andanças sem nenhum pudor e complacência alguma. Cachorro magro eu sou, ganho minhas paradas no abraço, mesmo que seja no braço.
Eu não tenho nenhum medo, jamais tive, do que disserem de mim. Digam o que for, se for dito, fica pelo não dito, cansei de me descabelar. Estou rompendo com o provável, com o previsível. Cansa-me falar do mesmo aos mesmos, dá-me sono. Assim mesmo! Cai-me a pálpebra, como se fosse doença.
Se tenho algum receio é o de não existir em mim mesmo, sendo eu o que sou e isto falo aos de minha roda. Gargalhadas é o que eu ouço, enquanto tilintam os copos de nossa miséria. Um ri tanto que cai da cadeira e pronto, agora é a bola da vez. Somos um bando de circo de palhaços amestrados, mas nem tanto! Este, talvez, o nosso encanto.
Na calada da noite, quando eu escuto os sons que vibram na madrugada, assim como os ruídos que vêm dos intestinos da escuridão, eu rumino e observo o brilho da chama se apagar no cinzeiro e penso: Somos como a brasa de efêmera duração e que a manhã vem apagar assim: Num sopro, num silvo. Como a velha águia, recomponho minhas penas e com o bico calço novas garras para sair de novo, Ã luz de minha própria sombra. Então, para quê se desviar tanto de nosso caminho? Para qual desígnio fomos destinados, porque o pranto se nossa vida se esvai assim, de rápido?
Estou rompendo com minhas amarras. Rompo com o que sabemos ser verdade porque o que é hoje, amanhã talvez não seja e pode soar como conto de mentiroso depois de amanhã. Nada de verdades absolutas, dogmas fedorentos. Nada mais cheio de ranço que a empedernida procura por totalitárias soluções, o ritmo do Nada é que pulsa no Tudo. É o que importa nesta vida.