Tenho pensado na subitaneidade da vida, este milagre que nos assola diáriamente, este pequeno evento que nos coloca frente a frente com a Eternidade. Os outros podem pensar, podem materializar seus pensamentos e colocar tudo na esfera do acaso, do espontàneo, do que "nada se pode provar". Como se pode explicar, hoje você está Ã beira de uma praia linda, amanhã você está doente e noutro dia, a um passo do final? Minha experiência com o assunto me indica que nada existe por acaso, nada pode ser reduzido a equações frias e quantificadas, nada é uma sequencia de "logos" e só.
Acho que a vida traz mais versos que qualquer poema e qualquer um de nós se esmera mas jamais pode ´passar de algo mais que um simulacro dela. Quando escrevo: "Eles se encontraram sobre a ponte e se beijaram loucamente após anos de espera..." jamais posso penetrar a densa bruma que envolve as vivências de suas almas, sequer chegar perto da delícia do beijo senão em sua descrição fria e racionalizada. Nós almejamos mais que isto, mas não passamos de colecionadores de momentos. Organizamos nossas vidas e vem a ventania e assola o campo de nossos sonhos e nos coloca sob os plátanos de Outono.
Não passamos de uma raça que coleciona momentos como os governos coletam impostos, de maneira a encher nossas vidas de uma ilusão de verdade quando nos deixamos mesmo conduzir pelas esferas do destino e das sombras que se apoderam da Humanidade há milênios. Desenhamos marcas no fundo de nossas casas/cavernas desde tempos imemoriais, para afugentar o medo da Espera, este sim nosso companheiro de longos braços. Mais do que qualquer simulação, mais do que qualquer pensamento que nos venha à mente em dias de triste solidão, está a nossa Verdade mais que profunda. Em nome desta busca, muitos morreram, em nome desta cósmica desavença, milhares ainda perecerão, assim fazemos de nossas religiões nossa muleta, como se a Eternidade pudesse ser conduzida a ser antropomórfica, como se os bilhões de sóis não pudessem ser mais do que criados para que somente nós, humanos, pudéssemos vê-los com hábeis ferramentas.
Quando saberemos que estamos mais do que criando caminhos para uma realidade alternativa que não abarque apenas nosso sonho de consumo mais imediato? Quando deixaremos de ser esta espécie infantilizada que acha que possui todas as possibilidades para determinar os sutis movimentos dos planetas, quando mal e mal podemos sustentar quem nos cerca de olhos esfaimados, bem à nossa porta, bem à nossa frente? Olhe para seu lado; Olhe para a esquerda! À sua direita, agora. O que você consegue ver além de seu umbigo, feroz bípede predador? O que mais? Nada. Nada mais. Apenas sua solidão canhestra, apenas sua própria pele carcomida por milhares de moléculas de ar; consegue ver sua sombra mas não vê a luz que emana dela!
Tenho pensado na subitaneidade da vida, de suas estranhas circunvoluções, de suas rotas estabelecidas, de nosso destino ameaçador. Tenho ruminado em torno de uma casca de maçã: Preferia ser uma abelha?