Fiquei, novamente, em silêncio. Sentado, cigarro pendente entre meus dedos lànguidos, cabeça levemente tombada pro lado esquerdo, descalço, meia garrafa de conhaque do meu lado, direito; assim, fiquei admirando ela. O silêncio era absoluto, ou quase, só escutava de longe seu respirar leve, tranquilo, quase hipnótico. Tantas coisas pensei. Senti paz, senti amor, senti um vazio dramático. Ela descalça, cabelo solto, longo, negro, suas pernas tinham desenhos precisos, terminavam num contorno suspenso, subia sobre uma cintura em forma de arco, continuava em contornos suaves, sucumbia em sua nuca elevada e terminava numa presilha de flor amarela. Era tudo extremamente silencioso. E ela ria, sozinha, sem fazer nem ruído. Uma lágrima escorreu de meus olhos de uma escuridão substanciosa. Eu queria dizer o que sentia, mas estava submerso num silêncio consignado. Radioativo era meu coração e minha mente, por fim, cedeu. Eu estava entregue, livre, nu. Mais um gole de conhaque; e mais uma lágrima. Senti-me enobrecido, exaltado, agudo, elevado e frágil. Seus movimentos eram os meus movimentos. Era como se fossemos apenas um. Coloquei a mão esquerda, que não segurava o copo, no peito, maneira inocente e teatral de segurar o coração dentro. Eu a amava. Seu corpo era majestoso e nobre e não possuía absolutamente nada de vulgaridade; absurdamente tudo estava em seu lugar, criando assim uma composição de lavor primoroso. Senti-me juvenil, sem medo, desarmado e abundante. Ela era sem ser. Ela era sem saber que era. Ela apenas era. E me senti protegido, sequioso, inebriado. Ela me olhou, sorriu indescritivelmente, e voltou pra onde não sei, pra lá, além, pra onde eu não podia chegar. Nesse momento minhas lágrimas não cessaram mais. Eternamente...
T.S.H.