Tudo de novo. O desespero fica a espreita, esperando a chance, e quando pode, vem, senta na minha cama e fica ali rindo, me olhando, chacoalhando a cabeça pros lados querendo dizer: É MEU AMIGO, ESTOU EU AQUI DE NOVO. Tanta facilidade em vangloriar-se, mas ao mesmo tempo, tanta dificuldade em se expressar. A culpa é minha, só minha. Eu que acreditei, larguei vícios, escrevi textos, jurei amor eterno, até casamento mencionei, falei em sossego, aconchego, diminui bebida, gritaria, puxei o freio, fui sensato, estendi a mão, ofereci o braço, escutei, falei, escutei, engoli sapo, e amei, amei até doer, amei até me desfalecer, até sucumbir, até nada mais ter que não somente o amor, tomado, encharcado, submerso, envolvido, por fim, solitário. Não é a razão que me irrita, é a falta dela e a culpa que colocam nela, exatamente pela falta da mesma. Fugir do amor é irracional, tanto quanto colocar a culpa na razão por isso. Ah, mas quem pode amar uma coisa que mal se conhece? Eu posso.