Tirem de mim meu chão, minha cerveja, minha meia e minha geladeira, mas, por favor, não tirem de mim a porra da esperança. Tirem de mim minha chave de casa, meu trabalho, meu frango assado e meu jogging de domingo, mas, por favor, não tirem de mim a porra da esperança. Tirem de mim meu computador, meu chinelo, meu dicionário e meu desodorante, mas, por favor, não tirem de mim a porra da esperança. Tirem de mim meu ar, o mar, o bar e o altar, mas, por favor, não tirem de mim a porra da esperança. Tirem de mim o que eu disse, o que não, o que escrevi, o que não, mas, por favor, não tirem de mim a porra da esperança. Tirem de mim meu coração, meu pulmão, meu fígado e minha perna direita, mas, por favor, não tirem de mim a porra da esperança. Tirem de mim meu dinheiro, meu sorriso, minha desobediência e minha vontade, mas, por favor, não tirem de mim a porra da esperança. Tirem de mim o sal, o sol, o estar e o sofá, mas, por favor, não tirem de mim a porra da esperança. Tirem de mim meu querer, meu café, minha fé e meu suposto saber, mas, por favor, não tirem de mim a porra da esperança. Tirem de mim o prêmio, a sentença, o verbo e qualquer presença, mas, por favor, não tirem de mim a porra da esperança. Tirem de mim o que sei, o que saberei, o que não sei e o que nunca saberei, mas, por favor, não tirem de mim a porra da esperança. Tirem de mim meu documento, meu espelho, minha água com gelo e meu ser sem sê-lo, mas, por favor, não tirem de mim a porra da esperança.
Tirem de mim qualquer coisa, menos a possibilidade de qualquer tipo de esperança, porque sem ela, qualquer coisa ficaria tão distante que impossível.
T.S.H.