Antropofagia é um termo originado do grego, como, aliás, todas as taras que conhecemos, são taras gregas. Ó povinho tarado.
Antropos significa homem, fagos, comer. Embora possa parecer viadagem, não se trata aí de comer "homem", mas de comer gente, de qualquer sexo.
A antropofagia acompanha a história da humanidade. Quando falta comida, uns comem os outros. É batata (êpa!).
Existem relatos de antropofagia entre grupos pré-históricos. Os Cro-Magnon comeram todos os Neanderthal que encontraram na Europa, extinguindo aquela espécie humana.
Nesse caso, os homens foram comidos nutricionalmente falando, enquanto que as mulheres Neanderthal foram comidas sexualmente primeiro.
É por isso que o gene deles ainda está no meio de nós, gerando tanta gente feia.
Os gregos - sempre eles - tinham em sua mitologia a história do pai dos deuses, Cronos, que comeu, bocalmente, boa parte dos seus filhos. Os mais espertos se esconderam, e aplicaram um vomitório no velhote que expeliu todo mundo e foi morto. Não sabia que deuses imortais morriam, mas como é uma história grega, vale tudo.
Se vasculharmos a história, encontraremos bizarras narrativas de práticas antropofágicas permeando todos os povos. Na velha Europa medieval, nos conta Dante que toda uma família foi aprisionada numa torre da cidade de Pisa e deixados a morrer de fome. O último a morrer foi o patriarca, conde Ugolino, depois de comer os cadáveres de seus filhos e netos, mas foi na época dos descobrimentos que a antropofagia ganhou mais destaque.
Os navegadores do novo mundo descobriram novas terras e novas gentes, com costumes ditos bárbaros.
Uns comiam os outros em diversas ocasiões, por vaiados motivos. Os vencedores comiam os vencidos ao fim das guerras, para intimidar os vencidos ou para adquirir sua força e bravura. Também os parentes dos mortos comiam seu corpo, ou seu cérebro, como ainda se faz hoje na Papua.
Talvez até alguns índios pensassem que aqueles seres branquelos e emplumados fossem alguma nova espécie de ave, como o tão esperado Quetzalcoatl, o deus-serpente emplumada, confundido com o venenoso Hernan Cortez, que barbarizou o império Azteca.
Comeram muitas aves-humanas por toda a América, e até um tal de Sardinha, que já veio enlatado para as costas brasileiras, virou almoço dominical dos selvagens.
A sanha antropofágica incendiou o bardo inglês, que em "Titus Andrónicus" não se conteve e introduziu a cena do banquete bizarro em que à mãe são servidos os filhos como principais pratos do jantar, que primeiro ela provou e se deliciou.
A fome na Europa, na Ásia e na África ou os rituais infantilóides dos selvagens dos novos mundos sempre foram regados à antropofagia.
Jonathan "Gulliver" Swift bem que sugeriu, modestamente, uma solução pitoresca para a economia irlandesa do século XVIII: comer as criançinhas.
Ou vocês pensam que em plena revolução industrial os depauperados operários ingleses não praticavam sua antropofagiasinha, face aos miseráveis salários e à s miseráveis condições de existência a que eram submetidas crianças desde os três anos de idade, a labutar nas fábricas dos burgueses endinheirados? Quando penso nisso quase desculpo o vagabundo do Marx e seu amancebado Engels, pois numa situação dessas só um manifesto comunista para enfiar no rabo da burguesia, porque só para isso e para criar regimes totalitários é que o tal manifesto serviu.
A Maria Antonieta teria dito aos famintos, ao contrário do tão propalado brioche:
- Se estão com fome, que comam suas bundas.
E assim o tempo foi passando, entre umas mordidas eróticas e outras dietéticas, a antropofagia surgia aqui e ali, nas crises da sociedade humana, como na revolução russa de 1917.
No Brasil uma antropofagia cultural fez um grupo de artistas comer simbolistas e cagar modernismo enquanto a seca no nordeste do país deve ter deixado muita gente com a impressão de que os sumiços de crianças não era outra coisa senão o ensopado de alguém.
Quando se pensava que era um teiú na panela, era na verdade um Tadeusinho.
Modernamente ouvimos falar de umas práticas esporádicas de antropofagia.
Quando não são aquelas lendas urbanas de uma fulana que pra não "perder" o marido, retalhou o bichinho e pós na geladeira para ir comendo com batatas fritas, ou aquelas histórias do "papa-figo" - leia-se FíGADO - quer seja pra comer, quer seja pra vender no mercado de órgãos, o fato é que tem gente comendo gente toda hora, e não é sexo não.
Quando aquele avião caiu nos Andes em 1972, fizeram a festa e depois vieram com aquela história de que não tinha outro jeito, mas na entrada já tinha gente de olho nos filés mignons das fulanas, ou de suas maminhas.
Recentemente, na Alemanha, um cara se deu para outro comer, frito.
Chegaram a jantar a rola do bife-vivo, antes do abate.
O fato é que estamos entrando numa época perigosa, cheia de gente ruim, época de apocalipse mesmo, quando a sociedade humana entra nos estertores e salve-se quem puder.
Os ricos mais ricos, os pobres mais pobres, a classe média inchando, que é para ser a primeira a se lascar quando os famintos vivos-mortos da miséria mundial atacarem buscando o que comer.
Não tem arroz, feijão, farinha?
Então vamos comer bundas, coxas, buchos!
O objetivo é encher a pança, seja lá do que for.
E assim, vemos que Darwin tinha razão: viemos do macaco e voltaremos com a macaca, para o fim da humanidade e início da bestialidade que tanto temos ensaiado nestes últimos cinco mil anos.