Deixa que a vida se encarregue dos problemas mais difíceis. Dos dilemas insolúveis. Dos conflitos e dos aflitos. Dos amores e temores. Dos traídos e deprimidos. Deixa que a vida tome conta de tudo. Se entregue. Confie. No final tudo se resolve. Há sempre uma solução para tudo nessa vida.
Com o tempo aprendemos a não desesperar diante da dor. Ela acaba passando. Não existe nenhuma que dure para sempre. Nada é para sempre. Nem os problemas, nem o sofrimento. O tempo abranda muita coisa. Cicatriza as feridas.
Quando olhamos em demasia para o problema, ele tende a aumentar de tamanho. Quando ficamos concentrados nele, não o enxergamos com clareza. É como colocar uma figura bem próxima dos olhos. Perdemos o foco, a nitidez. Precisamos aprender a nos distanciar dos problemas, para conseguirmos visualizá-lo com precisão. É por isso que dizem que quem está de fora vê muito melhor. Tenho certeza disso.
É insano nadar contra a correnteza da vida. Ela te arrasta com tal força, que não tem como parar, impedir isso. Você viaja num barco, sozinho, a deriva da sorte. Sujeito a ventanias e tempestades, sujeito à morte. A verdade é que cada um está sozinho no seu barco. Sem remos. Para continuar vivo, tem que seguir o curso do rio. Ora calmo, ora violento. Mas é preciso também saber apreciar as estrelas nas noites serenas e o por do sol nas tardes de primavera.
A vida é assim. Não há nada pior que o desespero, a angústia, a dor e o sofrimento das pessoas diante de nós. Não podemos entrar no barco do outro. Nem podemos fazer a viagem de ninguém. Mesmo que muitas vezes seja a nossa vontade.
É preciso sabedoria para continuar o trajeto. Sabedoria emocional. Saber viver com prazer. Com leveza. Com desprendimento. Porque os bens materiais adquiridos, não cabem no barco da vida. Não podemos carregá-los.
É uma viagem sem fim. Onde a maioria tenta chegar o mais longe que puder. Sobreviver aos infortúnios. Não é uma tarefa fácil a consciência de que se está sozinho. Alguns conseguem apreciar a paisagem no caminho. Outros se debatem até cair do barco e morrer. Preferem sofrer a aceitar a sorte.
É preciso deixar que a vida se encarregue. Deixar o barco correr livremente. É preciso soltar a alma. E se for leve o bastante, vai flutuar para sempre.