Terminou a grande tarefa do mundo. Olhos sequiosos escrutinavam telas em ávida procura por mais um milagre , rostos tensos em busca de mais um limite impossível. Muitos ritos quebrados, barreiras estateladas, lágrimas de sangue e dor.
Sangra a Grande Muralha. Sangram os olhos dos tibetanos; sangra a Grande Barreira de Recifes, está em estado terminal.
Hércules ressuscita cada quatro anos e impõe seus domínios em nossa Terra, ávida de mitos e de deuses que se esboroam em imagens cálidas logo depois do fim. Sobra um gosto acre de derrota em nossos olhos. Participamos da efêmera cruzada do Olimpo na terra, mas os deuses em sua forja cósmica já nos esquecem e partem acelerados para outras esferas e nossas míseras vidas mortais se amesquinham cada vez mais.
Sangra o nosso mundo, envenenado em sua própria prisão gasosa. Fico pensando em quê pensam os deuses olhando-nos de cima e maravilhados com o espetáculo de nossas proezas, num outro olhar mais crítico devem exclamar:
--Mas então, é só isso?
Nas risadas que se seguem, a cabeleira de um cometa toca nosso mundo. A forja de Marte rebrilha os sinos da guerra. Olhos temerosos olham o horizonte, não mais em busca de rápidos raios velozes, mas em busca de uma paz que se foi outrora.
Eu, como muitos de nós, oprimidos em nossa busca por uma ilusão de que a vida passa sem deixar rastro algum, ouso dizer, depois que os velozes astros se foram e mudaram a face de mais um ano de nossa humilde caminhada: