Toda a sua vida num átimo, num brilho de olhos, uma concentração de ritmos na batida de seu coração descompassado pela presença dela. A presença dela, preenchendo seus poros com o incrível perfume, todos os seus sentidos iluminados, o toque de suas mãos leve e sensível. Toda sua vida num ritmo febril, num corredor de luzes soltas. Um corredor de águas bravias, num troar de todos os seus vasos abertos. A montanha à distància, sua própria consciência numa expansão de cenas indizíveis, a presença dela num flash de um olhar que eterniza todo o sorriso.
A presença dela, num tempo diferente do dele, na encosta de uma corredeira de sonhos, na iluminura de um quadro solto numa sala de museu qualquer, um farrapo de imagem que escorrega das mãos num tempo que não é o dele nem o dela, um olhar que se cruzou numa improvável estação de uma história que se apropriou da deles, em cenas que se fazem aos poucos, construindo uma vida própria que ultrapassa todo o sentido de qualquer falta de qualquer um, na direção dos tempos todos.
Toda a sua vida num átomo, numa batida que não é a dele,é a dela, como um gato que se desloca num tempo próprio, consciente de sua grandeza e de sua leveza e de suas sete vidas sempre guardadas a sete chaves, preparadas para o salto que poderia ser mortal, sem nunca chegar a ser, o gato e suas nuvens, em sua presença suave, num quente ronronar. A presença dela no tempo dele, num coabitar cheio de áreas de atrito, na cama que compartilham de há muito, misturados ao sentido dos gatos e pássaros, no cheiro do perfume que inebria a todos.
Um corredor de luzes numa concentração de ritmos insones, no gemido do cio dos gatos nos telhados soltos de Novembro e nas chuvas que ardem nas encostas dos morros de corredeiras de sonhos; uma permanente sensação de ebulir-se, numa perene sensação de ser mortal sem nunca realmente ser, no salto de suas vidas, na paixão de seus sonhos perfeitos e das formas perfeitas dela.
Num museu qualquer descansa a iluminura de sua história que se foi há tempos imemoriais,consciente de sua grandeza e de seus passos leves nos telhados dos ritmos insones, no quente ronronar dela no quarto escondido de suas memórias e no olhar perfeito do gato que olha de cima, do alto de sua nuvem, do sonho que se foi mas que é em si a expansão de cenas indizíveis.