A cada dia, a vida leva um pouco mais de mim. Nas rugas que insistem em surgir no meu rosto, na pele envelhecida das mãos, nos cabelos brancos escondidos pela tintura mensal. A face já não mais reluz o brilho da juventude, disfarçada com a maquilagem, as marcas e a opacidade causada pelo tempo.
Por outro lado, a alma ainda canta cantigas de infància, ainda responde a sentimentos juvenis, e se encanta com a beleza das pequenas coisas, como um gesto de amor, um carinho, uma amizade sincera, uma boa música, uma manhã de sol ou uma tarde de chuva cercada de afeto e diversão, com direito a pipoca e um bom filme na televisão. Meu Eu não sabe que está envelhecendo.
Vivo dois tempos distintos em mim mesma. Um corpo que envelhece numa alma que permanece. O espírito continua jovem, a individualidade melhora a cada ano. Hoje me sinto mais segura, mais serena, sem abandonar a menina que habita em meu ser. Por outro lado, a maturidade colocou-me diante de um conflito. Afinal, quem eu sou hoje? O que me tornei? O que o tempo fez comigo? Por que não me sinto velha (o) por dentro? São perguntas que muitas vezes ficam sem respostas e me deixa confusa diante dessa nova realidade.
Sou uma mulher madura, uma mulher de verdade. Com todos os sonhos, expectativas, chiliques, frustrações e medos que nos atormentam a existência. Sou mãe, esposa, filha, sogra, amiga, profissional, dona de casa, funcionária e patroa, na vida. São papeis que desempenho com prazer ou não, com ou sem motivação, não importa.
Cheguei até aqui como pude. Bem ou mal, fui construída por mim e pela própria vida, que se impõe muitas vezes à nossa própria vontade. Já usei metade do meu tempo, sem direito a replay ou retrocesso. O que me assusta é o tempo que corre demasiadamente e nos ilude como um bom ilusionista, distraindo-nos a atenção enquanto tudo passa diante de nossos olhos, sem conseguirmos ver.
As pessoas de modo geral, esperam que tenhamos um comportamento mais "compatível" com a idade. Assim, temos que nos empenhar para não decepcionar a sociedade com suas normas e regras tão cruéis. Ou será que sou eu mesma que me imponho tantos paradigmas desnecessários?
Não deveria haver certo e errado nesse sentido. Eu não deveria ser apenas o que esperam de mim, mas o que desejo realmente ser. Não importa a minha idade, o que conta mesmo, é o que sinto e o que me faz feliz.
Há pessoas que aceitam o papel de velhos e assumem essa condição. Mas são tristes e insatisfeitos com a vida. Geralmente ficam falando de suas doenças, dos remédios que tomam e vivem competindo em desgraças. Mas alguns recusam esse fardo, e mesmo fisicamente envelhecidos, são pessoas alegres, que gostam de conversar, que são animadas e desfrutam do que a vida tem de melhor a oferecer, mesmo aos setenta, oitenta ou noventa anos.
A velhice está dentro de cada um de nós. A vida pode sim começar aos quarenta. Pois nessa idade temos tudo o que precisamos, e sabemos mais do que ninguém o valor que a vida tem.