Sempre fui fiel à doutrina do quanto menos bugigangas, melhor. Prezo por minha liberdade de não me transformar em um consumidor compulsivo e inconsequente, desses que têm a mania de ir comprando tudo o que vê e o que aparece de novo só porque é novo, mas dessa vez confesso que não deu para segurar. Acabo de sucumbir na tentação de comprar um minúsculo aparelho conhecido como MP4! A intenção é boa, e espero ser justificado por isso; é que preciso fazer uma pesquisa que produzirá muitas horas de gravação de entrevistas, e me disseram que o MP4 é adequado para facilitar a realização desse meu trabalho. Mas agora estou à s voltas com minha consciência que não me dá folga, qual um ente invisível buzinando a todo instante em meus ouvidos: "Tomó, pato... eu sabia que era só uma questão de tempo!"
Não sei bem o que é MP4, mas sei que é mais forte que MP3 e mais fraco que o MP5. Dizem que o MP4 tem um tal de Giga, uma medida, não sei se de área, circunferência ou volume, mas que ali dentro dá para estocar muitas horas de falação, substituindo com vantagens o meu rádio-gravador a pilhas.
Minha netinha tem se esforçado muito para que eu aprenda a manusear o pequeno aparelho, e já estou quase decorando como é que liga a função do gravador de voz, pois só quero usar esta função, mesmo porque, não quero mesmo nem saber de outras aplicações que se pode fazer desse tipo de invento.
Não tenho carro, celular, relógio, e mesmo meu PC está rodando com um "98", o "pois é" dos computadores, no qual estou transpirando agora para concluir esta confissão. Sou, como se diz, um consumidor consciente e um crítico feroz do consumismo. Como se vê, apesar do MP4, continuo o mesmo, e creio sinceramente que não será um pecadilho de momento que me tornará uma pessoa diferente.
Bem; acabo de me lembrar que ganhei um "pen dráive" no dia do meu aniversário, e não foi por conta de alguma armação ou trama diabólica, pois quem me presenteou diz que me devota grande apreço, e eu duvido que essa pessoa seja capaz de fazer alguma maldade comigo. Não ficaria bem para mim recusar o presente e nem livrar-me do objeto, pois um presente simboliza a presença física de quem presenteia. O máximo que posso fazer é guardá-lo como curiosidade, se bem que posso usar o aparelho na calada da noite, para não provocar escàndalos aos que bem conhecem minha opinião. Afinal, está cada vez mais difícil encontrar disquetes no comércio de artigos eletrónicos.
Pensando bem, não se deve mesmo abdicar do uso das novas tecnologias, desde que prevaleça as boas intenções, pois elas podem fazer milagres, quando funcionam, mas são um problema, nas mãos de quem não sabe usá-las, o que é um pecado.