Enquanto ela comia o arroz salgado que ela mesma preparara, uma imagem lhe veio à lembrança: sua descoberta de mar... aos nove anos...
E pós-se a questionar se descobrir o mar seria necessariamente quando se via o mar pela primeira vez... ou quando a pessoa se dava conta de que não poderia mais viver sem ele (o mar)... e que toda aquela imensidão sempre fizera parte do próprio corpo, como uma extensão de um braço que quer arrebanhar o mundo.. ou de uma perna que quer estar em todos lugares ao mesmo tempo...
E isto não lhe acontecera aos nove anos...
A sua descoberta de mar se dera não sabia quando... ou melhor, se dera num momento exato, se é que há exatidão em algo que está apenas começando a conhecer...Mas de qualquer forma, a sua descoberta de mar fora doce... tão doce, que aquele sal que amargara em sua boca, ressecando as suas crenças, nem se fizera presente... E se fizera, ela nem havia tomado consciência...
O mar era o que lhe importava. O mar era o que queria. E o mar era o que teria.
Sim. O mar. O azul. A imensidão.
Só não sabia (ou não queria saber) que o mar não poderia ter dono. Muito menos o azul que suas vistas nem alcançavam...
Pior ainda, a imensidão... Esta sim - tivera certeza depois... - jamais poderia ser sua...
E, então, o sal apareceu de novo...
Como ele era forte! E como ele lhe trazia à realidade!
Precisava de sal para viver?
Ela gostava de sal. E Ã s vezes sentia muito a sua falta.
Mas quando pensava que, para ter o sal, teria de escolher entre o viver... e o morrer no mar, sentia medo...
E, enquanto flutuava, só pensava em como desejara que Caymmi estivesse certo...