Em 1958, o número de migrantes chegando à cidade de todos os cantos do País já superava as expectativas e, no Plano Piloto, a W3 Sul começava a ser ocupada, gradativamente, dividindo com a Cidade Livre, depois chamada de Núcleo Banderante, a condição de principal centro do comércio da nova Capital. A ACDF, que ja existia há um ano, registrava há 50 anos que a população da nova Capital já superava os sete mil habitantes, e se achavam em funcionamento apenas 579 casas comerciais, além de cerca de 50 hoteis e pousadas.
Na época, a ACDF já atuava documentando e organizando aquele intenso movimento. Ela fora criada um ano antes. E não era fácil a vida no Núcleo Bandeirante de 1957. Quem lá chegava, seja de jipe, de caminhão, ou mesmo de avião -- a pista do aeroporto foi inaugurada em 1956 -- encontrava muito improviso. Barracos de madeira surgiam a cada momento ao longo das largas avenidas empoeiradas do lugar.
O ritmo de construção era frenético. Milhares de pessoas se misturavam aos barracos em construção e lojas improvisadas. Mercadorias eram expostas no chão, em malas ou caixotes. As firmas grandes, que vinham a convite do governo, eram encaminhadas para terrenos previamente definidos pela Novacap. Para os comerciantes menores, que buscavam uma nova vida, a tarefa er mais árdua e penosa. Manter o negócio em funcionamento era um desafio e os riscos eram grandes, sem contar as dificuldades estruturais, pois luz elétrica, água e telefone não havia.
Vendo que as necessidades dos comerciantes que chegavam ao Núcleo Bandeirante eram comuns, um jovem gerente de banco, António de Paula Pontes, o Tonico, que viera à cidade para cuidar da agência do Banco da Lavoura de Minas Gerais (que depois viraria Banco Real), o primeiro a se instalar em Brasília, teve a idéia de juntá-los em torno de uma associação.
Pontes visitou comerciantes instalados, expondo sua idéia. Como gerente de banco, poderia ajudar o comércio a se fortalecer, oferecendo empréstimo e usando o acesso à s autoridades que sua posição lhe oferecia. A idéia atraiu interesse de um grupo de jovens pioneiros empresários, que passou a ver na associção uma chance de de união em torno de interesses em comum. Assim foi que, no dia 16 de julho, o Dia Internacional do Comércio, na sala da casa António de Paula Pontes, que ficava na mesma construção de madeira onde funcionava a agência bancária, foi constituída a Associação Comercial de Brasília, entidade que nos próximos anos seria a mais importante da cidade, extrapolando seus objetivos e virando guardiã da história que se iniciava e um fórum de
debates sobre o destino de todo o Ditrito Federal, uma imagem constuída por vários líderes que a conduziram, como o ex-senador Lindberg Cury, que garantiu à entidade enorme prestígio, sobretudo com A Tribuna Livre que virou o mais importante palco de debates da cidade durante mais de duas décadas.
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(*) Apud "Vanguarda, Correio Comercial", ACDF, ano 1, nº 1, dezembro de 2008, Brasília (DF), p. 2, extraído do livro "Evolução Empresarial no Distrito Federal", editado pela ACDF e pelo SEBRAE-DF.