Eu ouvia a rádio CBN e suas notícias perenes; visivelmente acalorado, o debate sobre o jogador prosseguia, alguns o malhavam, outros o incensavam, eu pessoalmente não admiro suas firulas. Estanquei a hemorragia de meus dedos escrevendo aqui diretamente, como fora um jorro de palavras, quente como o diabo, após correr nas ruas perto de casa, um bairro arborizado e cheio de casas mais do que de prédios.
O Bairro do Brooklin, alguém conhece? Ruas de nomes estranhos, ruas de nomes nobres, Arkansas, Nova Iork, Avenida Portugal... Lembra minha adolescência, tinha um pessoal que morava aqui perto e um menino que era filho de portugueses mas que parecia um alemão. Tinha uma inveja dele porque todas as garotas queriam sair com ele e eu, a chupar os dedos. Imagine, ele tinha a minha altura e eu era mais forte, ele era o afortunado. Bem, fazer o quê? Destino, sabor de açúcar, lábia...O que seria?
Eu fico pensando, passando por um momento de fragilidade, assim como o que eu passo, a gente repensa a vida como um todo e vê que deixou de enxergar certas verdades a respeito de si mesmo. Deixou de enxergar que é finito o tempo de permanência nas ruas deste mundo: eu passo correndo, de mp3 em punho e agora olho tudo, todos, fotografo todas as nuances e todos os rostos, alguns se desviam, outros reprovam, eu olho mesmo, não sou dromedário, sou gente e gosto de olhar os rostos das pessoas ao léu, casualmente,assim como uma máquina fotográfica viva.
Lá vai o casal gozado; lá vai a velhinha eterna com sua bengalinha no rumo do infinito, lá vai a moça boazuda que me dá uma olhada de congelar picolé, lá vai o grandão de tatuagem no braço e cara de poucos amigos amarrado a um cachorro mastodóntico. Os trabalhadores do açougue! O pessoal indo para os pontos de ónibus, as moças gozadoras que olham para minhas pernas excessivamente expostas ( usei um calção meio exagerado mesmo) talvez espantadas com minha ousadia. Acolá dois caras conversam à meia boca, deve ser algo meio secreto porque quando passo mesmo ao longe, se calam.
Assim é minha visão! Passo por uma loja que cheira incenso, deliciosamente. Passo por outra onde se ouve um piano ao fundo, com notas bem pausadas, talvez uma escola de música. Enfrento um sinal fechado e os carros passam zunindo pela faixa de pedestres. Assim caminha a humanidade!
Rapidamente, eu penso, rapidamente tanto de meu ponto de vista quanto dos outros que passam, a vida é breve aqui na Metrópole. Breve é a vida no geral, meu MP3 toca Yanni, o piano dele orna as árvores de notas cristalinas...