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Cronicas-->Dia dezessete -- 03/02/2009 - 20:09 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Como fora parar ali? Ela sabia o que tinha de fazer, mas esqueceu o detalhe: A Imigração. Foi o que cortou seu plano de viver em algures, longe de nossa terra verdejante e pobre. Ela não teve chance, foram até bruscos com ela:

--Volta para su casa, mujer.
Su casa, mi casa. Ela voltou, mas casa mesmo que é bom, não tinha. Pelo menos agora!
--E agora? Como faço?
--Entralo.

Entrou no avião meio a contragosto, na contramão de sua história. Não preciso dizer que voltou cabisbaixa, sem ninguém para recebê-la, de origem humilde que era. Uma cidade do interior, ela tentava ordenar seus pensamentos para fazer frente ao problema mais urgente: O que comer? Como ir ao banheiro agora se não tinha dinheiro algum nem para pegar ónibus? O que tinha fora confiscado pela Imigración.

--Dinheiro!
--É o que tenho!
--Tanto faz, não tem mais.

Pobre mulher, pobre, mulher e sozinha no aeroporto. Nem uma alma caridosa para salvá-la de seu destino solitário. Ou não?
--Aceita um chá? A senhora está meio pálida!
--Tanto assim?
--Pode tomar por minha conta!
Nunca um chá fora tão importante! Um chá mate gelado onde ela sentiu um quê de limão, generosamente doado pelo garçom. O garçom pousou sua mão em seu ombro.
--Está bom?
--Muito! Obrigado!
--Notei que desde que a senhora chegou, não fez nada senão olhar as vitrines. Está sozinha?
Ela contou sua amarga história. Sua história começou a pipocar no aeroporto à medida que ela andava por lá, carregando o carrinho com sua surrada malinha. Sua malinha surrada estava meio aberta, mostrando alguns detalhes constrangedores. Alguém chamou sua atenção, ela foi lá e fechou a dita cuja.

Andando o dia todo, natural que ficasse cansada; ofereceram-lhe uma poltrona para se deitar, os próprios funcionários do aeroporto. Ela se deitou e dormiu uma noite de anjos; dia seguinte já se cotizavam os funcionários e até alguns passantes para que ela pudesse juntar os trocados e voltar à cidade natal, distante a mais de mil quilómetros dali. Ela não se fez de rogada, foi pedindo mesmo, é pedindo que se aprende a ser humilde, ela raciocinava enquanto colhia a generosidade alheia bem aceita por suas mãos gordinhas. Todo santo dia, usava os banheiros para se lavar, comia na lanchonete sem abusar do que tinha e foi juntando um bolinho de dinheiro até que o suficiente para uma passagem surgiu em seu mão no décimo sétimo dia.

Despediu-se de todos os que conhecia em generosidade e dos que a viam passar desconsolada no início, conformada no meio da história, esfuziante ao final: Renascera das cinzas a repatriada à força, renascera do limbo a alegria daquele lugar pois a viram entrar no avião, não sem antes mirar o aeroporto que a acolhera pela última vez.

Teve um certo garçom que tomou um chá mate por ela; outro elevou um pedaço de pão e o homem da limpeza se lembrou que ela esquecera um radinho entre os dois sofás em que dormia, talvez para ouvir notícias do lugar em que morava, sem as habituais notícias de seus parentes mas sublimando-as em ondas curtas.
Foi-se o avião. A Imigración deu por falta de um radinho, mas já era tarde para pedir de volta.
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