Quando Jackson fez muito sucesso no Brasil, eu tinha 10 anos de idade. Eu e muitos outros garotos da minha idade ficamos sobremodo fascinados com aquele estilo de dançar. Daí, até por volta de 1986, a juventude mergulhou no pop americano, que à quela época era personificado pela afinada voz da Black Music que cantava "Ben" nos anos 70.
Algum tempo depois, eu havia descoberto que em casa tínhamos um pequeno compacto com essa canção, que eu não conhecia. Quando escutei, não se parecia com aquele Michael que conhecemos no "Thriller", cujo clip foi exibido no programa "Fantástico" (lembro-me bem de tê-lo assistido e achado muito assustador [!]).
Muitos que lamentam a morte do exímio dançarino foram os que ontem se escandalizaram e o culparam pelas acusações de pedofilia de que foi alvo fácil. O fato é que ele era uma pessoa com graves distúrbios mentais e autoestima destruída, que um império de dólares não conseguiu curar. Isso não justifica seu possível e nefasto gosto por crianças, mas ajuda muito a conduzir o comportamento que apresentou.
Se cometeu ou não os crimes que lhe imputaram, isso a Justiça americana já resolveu. Porém, não devem ter faltado aqueles que desejavam apenas tirar um pouco de sua fortuna. No fim, pesadas somas monetárias resolveram os problemas. Os pedófilos do mundo podem ter pensado:
"Ah, como o dinheiro é doce!"
E é mesmo. Eu já o vi sanar confusões que nem mesmo a morte sanaria. Tudo tem um preço.
Até meados dos anos 80, Jackson era um sujeito bonito, um Black boa pinta, mas depois uma criatura em sofrimento que se mutilava. Nunca vi nada de errado em seu nariz, senão quando foi se deformando.
Lembro-me que, na minha pasta escolar, eu tinha escrito seu nome, lá por volta de 1984, mais ou menos. Um cara da outra sala viu e perguntou:
"Como você tem coragem de gostar de um preto feio desse?"
Uma amiga de minha mãe disse a mesma coisa e na mesma época. Eu não me importava com isso. (Eu não me lembro do que fiz ontem, mas me lembro de coisas passadas há tanto tempo!...)
Não houve jovem que não tivesse dançado Michael na minha época. Éramos bombardeados por sua imagem e música. Não tínhamos escolha. Somente depois, com alguma consciência crítica da realidade, pudemos nos bandear para o `rock and roll´ da capital federal e do mundo.
Agora que esse tempo já vai muito longe, nem reconheço mais o que se passou. Fico indiferente a todas as notícias exageradas e superexpostas com o fim de fazer rodar o carrossel da grana para os safados da mídia sem pudor.
É tudo muito vago e esfumaçado, porque aquela pessoa que eu fui quando criança e que gostava de Michael está tão morta quanto ele.