É só quando o vento sopra. E se eu puder escolher que seja de noite. Dois ou mais vagões se partem, e partem mesmo assim, partindo, partidos, e fico na estação, eu e meus eus, enfim, sozinhos. As somatórias dos atos nos transformam quem sempre só optou em somar, mesmo que solitariamente, até no fim. Mesmo em papel milimetrado erramos o traço porque humano somos. E se você prefere o certo, o calmo e o senil, eu insisto e prefiro a novidade, a avalanche, até a frase: é tarde demais! Já foi feito, e o recomeço é novamente o começo de novo, de tudo, de novo, novamente. Sou e serei um eterno desadaptado com essa sociedade inversamente patriótica, convenientemente disposta, torpemente ignóbil, embaraçada nas entrelinhas rasas e cómodas, que se defende de tudo com armas, palavras, punhos, suando enxofre e cuspindo falsos e fétidos escrúpulos. A minha relutància vem de dentro, do mais sereno e plácido, e quando na boca, se transforma em vigor e subversão. Não me identifico com robustos homens de bigode, que dirigem languidamente seus carros esporte, que fingem uma religiosidade avulsa e descartável, que fumam charutos, que falam de suas frutíferas empresas economicamente consolidados, que coçam a bunda com a chave do carro, que andam plenos e satisfeitos entupidos de carne de primeira, de champanhes caros, de ódio e pavor, que mamam na teta dessa sociedade falida e demente, que se entopem dela, que sucumbem a ela e que destrói ela. Não me venham mais com suas verdades fáceis, compradas em bancas de jornal, em lojas de conveniências, em puteiros glamurosos. Vomite sobre seu seboso vizinho, não aqui.