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Cronicas-->É COMO QUASE UM SONHO -- 10/09/2009 - 20:47 (thiago schneider herrera) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
É como quase um sonho. Os planos transitam numa atmosfera alienante. Planos de altos cargos supervalorizados pelos de cargo sub-valorizados, casa equipada com dezenas de controles remotos para controlar máquinas que por si só nos controlam, planos de casamento numa igrejinha de bairro, horta, gold retrievers correndo sem direção e pra todos os lados, tv de plasma 50 polegadas a cabo numa sala onde o silêncio só é interrompido quando vozes saem da mesma, cobertor confortável, teto da garagem reclinável, vigias vigiando sem vontade o que não pode ser roubado, robustas vigas sustentando jardins suspensos e espelhos d´água para visitantes entediados, carros de marca pra desesperadamente representar o que de dentro falta, surf no Havaí, esqui no Alasca, ver Guernica em Madri, safári na África, fotos montadas com sorrisos falsos na ilha de Caras, champanhe importado, charuto caro, caviar enlatado, 10 amantes e 10 filhos bastardos. No fundo corações despedaçados pelo descontentamento com o que se tem, e um sonho decadente e vazio pelo aquilo que se gostaria de ter. E compram felicidade instantànea a preços enganosamente satisfatórios, mas logo a encostam no fundo de um armário velho cheio de roupas e recordações baratas porque descobriram que a felicidade não estava dentro daquele produto que eles tinham comprado e que pagaram caro, mas que agora tinham absoluta certeza que estará dentro do novo produto anunciado. Mas ali também não estará a felicidade, mas só mais um produto, que provavelmente personifica o modismo momentàneo e que alimenta ferozmente o ímpeto consumista de quem acredita que felicidade está nas coisas que se compra, e não no que se é. Eu não preciso de um carro do ano para ser feliz, mas preciso ser honesto para tal. Eu não preciso de roupa da Lacoste, Armani, Forum ou C&A para ser feliz, mas preciso ter amigos para tal. Não preciso de casa de campo, casa de praia e casa pra amante para ser feliz, mas exatamente o inverso disso, preciso de simplicidade para tal. Enganar-se com felicidade que se veste, se usa e se come, é uma forma de cegar-se diante daquilo que não se compra, não se produz em série, não se desgasta, não fica fora de moda, não enjoa. Cegos são aqueles que não sentem, e exatamente por isso só tem olhos pra coisas materiais, que muito ou um quase nada de dinheiro compra.

T.S.H.

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