Analisando os fatos de forma fria e distante, acabo, não sem pesar, mas talvez equivocado, constatando que um povo sem cultura própria acaba se tornando um povo em vínculos afetivos com seus antepassados, que pela naturalidade e processo evolutivo, são eles e deles que se herda a cultura, que sempre será uma evolução de algo criado anteriormente. Nada se torna cultura ou cultural sem a avaliação e posterior aprovação do tempo e das gerações futuras. Um povo ceifado constantemente dessa evolução gradativa acaba adquirindo e incorporando culturas e hábitos herdados dos ceifadores, que ali estão como impostores em terras estrangeiras, impondo através de uma violenta força invisível algo que deveria sim nascer de maneira natural, das mãos, mentes, corpos, vozes dos que ali, naquela terra nasceram, cresceram, morreram e morrerão. Nunca usurpadores poderão ser incorporadores, seja de cultura, de hábitos, de religião, de leis. Isso deve ser feito pelo próprio povo nascido e criado no local, que entende e absorve verdadeiramente sua verdade, sua essência, sua maneira de honrar-se e de se mostrar ao mundo. Quão prepotentes e tolos são tais conquistadores que acreditam no fato de quanto mais território se tem, mais poder se conquista, enquanto que por essa desmedida e irresponsável ganància passa-se inapelavelmente encima de leis, ordem, tratados, e inacreditavelmente por seres humanos, sem piedade e compaixão para com seus pares, matando, torturando e ridicularizando civis inocentes, que não tem culpa e que nada tem a ver com essas disputas organizadas de dentro de escritórios com ar condicionado, café quente e poltronas confortáveis. Sofrer tanto pelas mãos de desconhecidos, sendo que de suas próprias mãos nunca hão de flagelar ninguém é uma constatação de que algo sempre esteve errado em nós, sempre esteve ao inverso, do avesso, os valores sempre estiveram subjugados pela estúpida maneira de se entender errado o 2 + 2 é 4.
A História, nem sempre, mas a maioria das vezes faz justiça, absolvendo ou culpando antes culpados e/ou inocentes, através do processo de se entender o passado. Dificilmente se consegue, em toda a história da humanidade, entender a própria época. Sempre analisamos e classificamos com ismos ou não épocas anteriores a nossa, para assim, nesse processo, a época seguinte entender e classificar a nossa. E assim vai, sucessivamente a história sendo contada muito mais por quem não a viveu. Às vezes contaminados, não todos, pelo espírito de sua época, dificilmente conseguindo ser imparcial perante verdades quase nítidas em fotos amareladas.
Um povo honrado e patriota hoje, talvez seja o resultado de uma busca desesperada pela identidade nunca tida, muito menos mantida, no passado. Vejo-os como um bando de órfãos que portam apenas uma foto dos pais na carteira, a tal da foto quase nítida e amarelada, e um livro de História na mão, escrita por alguém de sua geração, repleta de 3 pontos ao final das frases e muito mais pontos de interrogação antecipados de porquês eloquentes e indignados que pontos de exclamação exaltados. A admiração que sinto pelo povo da Polónia provém da minha admiração silenciosa que sinto pelos injustiçados e pelos bons, e especialmente nesse caso, pela sua incansável luta de liberdade.