Clamo pela urgência. Agora, já, nesse instante. A urgência persiste e ainda insisto nela, como um dragão imaginário a tossir labaredas e cuspir lava, suspiros são feito de fumaça, enquanto de seus olhos furiosos escorrem lágrimas em brasa. Sempre estou a 20 km/h e 3 garrafas a mais e 3 horas de sono a menos que o mundo inteiro. A sensação se faz imediata, como indo contra o tempo, perfurando sua inexorável linha infinita e eterna. Não sei sentar e esperar que o mundo gire, e nessa sua suave lentidão, me levar ali, lá. Me cobro demais resultados que nem sempre consigo alcançar, talvez até nunca ninguém conseguiria. Vejo-me na praia com a amada tomando cerveja gelada, filhos ajudando a puxar o barco de pesca olhando pra trás e dando risada. Perfeito demais pra quem sempre entrou de cabeça no caos, porém nas mãos, 2 armas, uma caneta - _Outra cachaça! - e uma velha espingarda. Não que seja o certo, mas são essas as armas que me sobraram. Se você, por acaso, tem outras, talvez seja simplesmente sorte do próprio acaso. E não que seja errado, mas arma e caneta sem licença de uso podem causar grandes estragos. Se você, por acaso, acha que não, tudo bem, ainda assim morrerão gente de fome e sede na África, os EUA ainda tentarão arbitrariamente domar o cavalo de areia e as pedras à beira mar continuarão infinitamente recebendo ondas em sua dureza, ainda continuará não existindo Deus, mas não por isso, ainda assim continuarão enriquecendo, matando, corrompendo e emburrecendo ás suas custas. Pobre coitado, nem existe, mesmo assim tem tanto a se explicar e a desculpar-se.
Uma pessoa qualquer me disse que em 2009 encontraria Deus. Bom, acho que tipos assim não frequenta os mesmos lugares que eu porque tem toda uma banca e uma imagem demagoga a zelar, portanto o encontro se torna impossível, mesmo se existisse. Bom, mas se existisse eu rogaria que ficasse o mais longe possível de mim, porque, não que o conheça bem, nem quero, muito menos preciso, mas sei de seu pavio extremamente curto e sua índole agressiva, vingativa e sádica quando contrariado. Confesso, me cago de medo dele. Vai que ele me joga por toda a eternidade no mármore do inferno só porque cheguei a conclusão de que não preciso acreditar nas mentiras criadas pelos homens pra manipular, controlar e foder minha vida através de seu nome. É o mesmo que alguém muito fã de super-heróis querer me jogar no mármore do inferno por toda a eternidade só pelo fato de eu não acreditar que o homem aranha exista e que também vai me salvar quando eu estiver em apuros. A diferença é que se o homem aranha existisse, o próprio não iria querer ver minha pele assando no fogo e minha alma sendo flagelada para todo o sempre só pelo fato de eu não adorá-lo como o mais legal de todos, ou pelo fato de ter feito sexo sem fins procriadores, ou pelo fato de ter questionado pelo menos uma vez na vida o sentido de se acreditar num deus que só quer foder sua vida, só quer te transformar num ser que vê a mulher como um pedaço de nada sem nada dentro, um bitolado, alienado, uma massa disforme sem vontades e desejos, sem questionamentos, sem livre arbítrio, sem porra nenhuma a não ser um guiazinho cheio de dogmas fajutos, leis absurdas, tabus hipócritas que só geram culpas traumatizantes, porém desnecessárias e injustas e covardes. O instinto humano está acima de regras impostas por um ser onipresente criado por seres opressores. E essa tal promessa de paraíso? Lá deve ter muita cerveja, porque um lugar sem cerveja não pode ter a pretensão de se denominar paraíso. Para entrar no paraíso precisa-se pagar caro, muito caro, extremamente caro. Uma vida inteira de restrições, de culpas, de mudez, cegueira e surdez, de supostos pecados amedrontadores, de anulação do prazer, da liberdade, do pensar livremente, de comedimento perante tudo só usufruindo das coisas em doses homeopáticas, e medo, muito medo, pavor, horror e terror e penso - pra quê? Não vale a pena, nunca valeu, nem nunca valerá.
Agora se alguém estiver pensando que estarei fodido quando encontrar deus, posso afirmar, esse alguém também conhece e índole dele.