O que me irrita é a pose, o falso modesto e seu olhar lànguido como se fosse sempre algo sério. Gesticula com pressa palavras insossas, anti-estéticas, como se tudo fosse sempre coisa séria. E bebe uísque on the rocks e vomita suas historinhas, sua crença e sua filosofia nauseabunda sobre nós. Eu sei, somos presas fáceis. Somos caipiras, não entendemos muito de tecnologia, ipod, iphone, facebook, como manter em forma a barriga ou como criar um cool e modernoso look. Não sabemos apreciar lagosta, champanhe e dry martini. Gostamos mesmo é de torresmo, cerveja e pinga de alambique. E sabe o da pose, ri um puta sorriso forçado, repetitivo, por infinitos segundos o mesmo volume, a mesma entonação, a boca em forma de riso rígida na mesma posição, e uma reluzente cara idiota de irritante tosca e febril satisfação. É o riso dos ricos que não tem absolutamente nenhuma preocupação, a não ser com sua total, impiedosa e completa...; ah sei lá, minha incompetência limita alguma justa definição. Pobre fala alto, grita, é exagerado, chora, clama, implora, quebra copo, prato, óculos, fuma qualquer tipo de cigarro, come asinha de frango com a mão, lambe o osso pra economizar almoço, bebe cerveja na latinha, limpa a mão na cortina, mistura macarrão com feijão e vira pinga, banho de mangueira pra substituir piscina, vê futebol e ama carnaval, faz samba com balde no fundo do quintal, xinga a vizinha mas tudo se resolve com um belo macarrão com salsicha e tubaína, compra fiado e paga com galo, flores de plástico pra enfeitar a cozinha, lençol no sofá pra protege-lo da sujeira, Tele-Sena é a única esperança de mudar de vida e todo dia busca o marido fudido na sarjeta. Rico fala manso, gesticula com precisa moderação, tem olhar alto e escroto de quem possui alta remuneração, come devagar e pouco pra manter em forma um belo corpo, e fala de negócios e bolsa de valores, constantes viagens internacionais, enche o cú de antidepressivo pra mascarar as dores, faz shiatsu, curso de etiqueta e bonseamentos artificiais, piscina com cascata substitui a cascata que falta perto de casa porque vive preso num condomínio de luxo repleto de idênticos magnatas, gosta de bossa-nova e jazz e teatro de vanguarda, blinda o carro, os filhos e a casa, no almoço camarão e na sobremesa petit-gateau, compra amigos, putas e esposas com a herança do falecido vovó, possui um ar sacana, maldoso e pomposo e mesmo assim se acha bacana, meio glorioso, trata pessoas com menos dinheiro e poder com estupidez e desdenha dos problemas do mundo com inacreditável morbidez.
Esqueça tudo, somos o país das Olimpiadas, da Copa do Mundo. Vamos nos embecilizar com taça e medalha de ouro.