A História do Cinema em Araras-SP (3 de 3)
O Cine Araruna, o maior de uma época de ouro
Alcyr Matthiesen
Nos anos 50, o cinema estava no auge em todo o País. Só para se ter uma ideia, o Centro de São Paulo era chamado "Cinelàndia Paulista" e ostentava os cinemas: 
Ipiranga, Marabá, Paissandu, República e outros. Mas na Avenida São João concentravam-se os mais eletrizantes como 
Olido, Metro, Regina, Paratodos, Jussara e 
Art-Palácio. Todavia, se formos citar os dos bairros, esse número chegaria talvez próximo a uma centena.
Nessa época, Hollywood era a Meca da sétima arte e outros países também davam a sua contribuição. Em Araras, a 
Sociedade Ararense de Melhoramentos, construída por uma legião de homens dinàmicos, lançou a proposta para construção de um grande cinema na altura dos existentes na Capital. A semente foi lançada e a partir de 1955 e no ano seguinte teve início a construção do cinema com nome provisório 
Cine Ararense, alterado depois para 
Cine Araruna. A construção seguia em ritmo acelerado e falava-se em tela panoràmica e 1.100 poltronas Cimo. Uma das últimas etapas da construção foi o saguão de entrada, de beleza ímpar, com linhas arquitetónicas arrojadas e um magnífico mural colorido, construído em pastilhas vitrificadas exibindo a figura de uma 
araruna. O piso, de granito polido, com làminas douradas encravadas no interior, formava figuras geométricas em linhas modernas. A rampa, acarpetada em azul, era curva e levava o espectador à esquerda para a sala de estar e 
bombonière. À frente, abria-se a pesada cortina azul, que dava entrada à sala de exibição.
As obras terminaram com a pintura interna, fiação, instalação de caixas acústicas. A aparelhagem Simplex era a marca do que havia de mais moderno em imagem e som, sendo pioneiro na sua instalação o técnico Pedrinho Alberto, seguido por Orlandinho Zaniboni que acompanhou toda a epopeia do 
Araruna como projecionista e ulterior arrendatário. O primeiro gerente foi Waldemar Boldrin, sucedido por Ney Ramos do Rego, que viveria neste cinema por vinte e seis anos.
Como já foi dito na cronologia dessas casas de espetáculos, o 
Cine Araruna é inaugurado em 1958 com o filme 
Assim Caminha a Humanidade, estrelado por Rock Hudson, Elizabeth Taylor e James Dean. As sessões eram diárias e noturnas e para os homens, durante muitos anos, era exigido paletó obrigatório e não era permitido entrarem com sandálias, sendo imprescindível o uso de sapatos. Habitualmente, nas paredes envidraçadas do saguão eram afixados 
pósteres anunciando os próximos lançamentos e à direita da porta principal ficavam os cartazes com fotos do filme em exibição. Grandes produções como 
Os Dez Mandamentos, Ben-Hur e 
Spartacus eram anunciadas com gigantescas pinturas sobre a marquise do cinema, como nos famosos espetáculos da Capital e da 
Broadway americana. De tempos em tempos, o Ney promovia uma sessão 
Tom & Jerry aos domingos de manhã, onde os filhos "levavam" os pais. Seguiam-se às tardes as matinês e, à noite, duas sessões. Quando passavam filmes de Mazzaropi, as filas dobravam o quarteirão e era comum haver cinco sessões apinhadas de gente, com muitos assistindo sentados no chão.
O namoro no cinema, para os sessentões, foi um marco importante e muitos chegaram ao altar graças aos beijos roubados no 
escurinho do Araruna, sob a fiscalização do 
lanterninha que soltava um facho na cara dos amantes mais afoitos.
Contudo, tudo é lembrança e nostalgia. A TV, o vídeo, o carro, os cursos noturnos e as atuais baladas esvaziaram o cinema. Na década de 80, com a liberação da censura, o 
pornó voltou a trazer parte de um público às salas de exibição, mas foi por pouco tempo. A televisão colorida e as locadoras multiplicaram-se pela cidade e o 
Araruna, sem público, à semelhança dos cinemas anteriores, acabou fechando na fria noite de 31 de outubro de 1989. O resto vocês já sabem... Não só Araras, mas a Capital, os cinemas do Interior e em outros países, o fim foi o mesmo. Surgiram os grandes 
shoppings e neles a nova geração volta a curtir o telão, mas não mais em salas com 1.100 lugares. Contudo, com uma vantagem de várias sessões em exibições diárias. A 
Broadway de Nova Iorque insiste nos grandes espetáculos e lá o cinema ainda mantém índices significativos. Tudo indica que tal tendência começa a chegar no Brasil, mas ainda é cedo para apostar no retorno de grandes salas com telão e pipocas. O tempo dirá...
Alcyr Matthiesen é biólogo, professor universitário aposentado e historiador de Araras, nossa cidade natal.
Fonte: OPINIÃO JORNAL, Araras (SP), Sábado, 24/10/2009, Página 1B.
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LEIA TAMBÉM:
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LUIZ ROBERTO TURATTI.