Venho guardando um segredo há algum tempo.Não aguento mais.Resolvi contar embora me chamem de louca. Mas pouco importa. Preciso desabafar. Não é que que, depois de velha e casada pela segunda vez, resolvi ter um amante. Nem sei explicar como tudo aconteceu. Quando dei por conta estava como uma presa nas mãos de um novo amado.
O pior é que acho que meu marido já desconfiou.Acha que eu não quero mais sair com ele e até fico a empurrá-lo para sair sozinho.E é verdade mesmo. Sinto pelo jeito dele que anda desconfiado. Também quem faz aqui, paga aqui mesmo.A lei do retorno é realidade.
Vivíamos, eu e meu marido, como um casal de apaixonados um pelo outro. Não havia dúvidas entre nós dois. Até que um belo dia eu descobri que ele me traía com uma safada. de tipo comum, e tagarela demais!Dessas molecas que a gente mesmo introduz em nossa casa sem nunca imaginar que seja uma futura rival. A princípio pensei ser apenas por curiosidade que ele parava tudo para ouví-la e apreciá-la.Muitas vezes eu o encontrei absorto olhando para ela!!!Ficava pasma! Peguei-o naquele idílio amoroso, comum só de casais apaixonados, tanto na sala como no nosso próprio quarto.Até na copa também.Nem sentia a minha presença. Isso era uma vergonha! Queria reagir, mas como?! O que fazer? Expulsá-la de casa? Jogá-la ao chão depois de uma grande bofetada?!Pisá-la?E depois ir chutando?! Ele o que faria no meio de nós duas?Tive medo de agir com grosseria.
Nova ideia chegou a minha mente e passei a competir com ele. Fiz de conta que não percebia nada. E, também, fui introduzindo quem eu queria em nossa casa. Nunca fui de querer parecer uma santinha e nem tenho o jeito de angelical! Resolvi dar-lhe o troco. Se ele me traía...eu tinha que traí-lo também.Confesso que não foi fácil acostumar-me a essa nova ideia.Mas coração quando magoado por traição é capaz de enormes espertezas.
Assim, consegui um que se tornasse meu amante. Detestava a tagarela, gasguita e barulhenta por isso resolvi procurar um que fosse silencioso, tranquilo e calmo. Trato-o com muito carinho como ele merece.É formidável e tem me ensinado muitas coisas. Leva-me a conhecer lugares bem desconhecidos e vivo, agora, como a desbravar um mundo novo. Só queria que eu aprendesse a amá-lo...tanto quanto eu amo meu marido.E assim acontece. Todos os dias nos encontramos, uma ou duas vezes. Tem dias que me sinto mais audaciosa e fico com ele até de madrugada. Hoje me sinto realizada tendo além de meu marido, um outro amor. Só agora aos 70 anos é que fui corajosa e me acho tal qua uma Dona Flor e seus dois maridos.Que bom!!!
Que me adiantaria passar o resto dos meus dias , como outras mulheres. resmungando,lamentando e sentindo ciúmes do irreal ou pior desvalorizadas?!Ridículas todas minhas companheiras que passam pela mesma situação! Façam o mesmo que eu fiz. Consigam também ocupar os minutos e horas que ele se dedica a seus interesses próprios.
Com sabedoria descobri que não iria conseguir tirar dele sua fiel amante Dona Televisão e que o aparente rival de meu marido, Senhor Computador, faz muito bem para mim deixando-me calma e mais paciente. Assim, respeitando nossas individualidades conseguimos viver em paz e amando-nos cada vez mais.
Autora:Yeda de Moraes Souza Machado/21-05-2009
Membro da Academia Parnaibana de Letras/APAL
Ocupante da cadeira Nº33
