No tempo que me reservo para ler comentários aos meus escritos, alguns em prosa, que é minha forma predileta ultimamente, estava achando certa graça de alguém que me disse "ter adorado meus quatro sonetos e que no meu lugar, se soubesse poetar tão bem quanto eu, só faria sonetos"... Eu disse ter achado graça, não por deboche, mas porque, justamente a forma fixa - que tem como maior representante o SONETO - jamais me agradou! Sou apreciadora dos sonetos, enquanto leitora. Mas não para escrevê-los. É algo meio "torturante"...
Prefiro os versos livres, soltos... Rebeldes como eu, que tenho prazer de ir onde bem quiser, sem que minha liberdade seja cerceada... E minha analogia com o soneto é assim: uma prisão... Chego a ter pena dos versos, e de seu penoso trabalho de retorção, para se encaixar nas dez sílabas poéticas que os clássicos lhes impuseram... E as palavras? Coitadinhas... Tem de obedecer à s rimas, sem tornar o ritmo medíocre... Não foi à toa que Bilac, no seu impecável parnaso, se comparou ao ourives, na perfeição da forma. Não resta a menor dúvida de que um texto trabalhado com arte torna-se uma maravilha literária.
Acho enfadonho ter de lutar com as palavras, substituindo-as, a todo momento, para dar feição à rima sem, contudo, distorcer o ritmo que faz de um poema sua arte maior... Perdoem os amantes das rimas sonoras e barulhentas... Mas... ainda sou por uma, ou outra, ao acaso - essas que caem naturalmente como uma luva - e que se acomodam "sem incomodar" na medida justa que a ceifa literária requer. Sonetos são pieguices do coração. E até eu, por mais romàntica e com este sentimento exacerbado, fico meio escandalizada ao lê-los... Cheiram a lágrimas e eu não estou afeita a chorar... Prefiro inundar meus olhos com a prata da lua cheia, que já se insinua pelo céu sem fim...
O leitor falava dos meus sonetos; na verdade, mais ensaios poéticos do que propriamente poemas. Porque o soneto é uma forma de poesia de feitura árdua, com atenção redobrada aos mínimos detalhes. E eu os fiz com a rapidez de quem faz pipocas no microondas... Um bom entendedor de literatura sabe muito bem do que estou falando. Não tenho a arte do rebusque, e nem desejo tê-la. Gosto de textos simples que fluem diante dos olhos, o tipo de produção cujas entrelinhas batem no mesmo ritmo do coração de quem as percebe...
E eu, penhoradamente, agradeço tamanho elogio! Não é minha praia. O "quadràngulo", por assim dizer - pois são quatro poemas - foi apenas uma aposta que fiz com um dileto amigo que ama a "arte maior", em outubro passado. Perdi a aposta e ele, como sabe de minha relutància em escrever no difícil estilo amarrado "fabricando rimas" me impós esse castigo: escrever um soneto por mês até janeiro de 2010. E minha dívida está paga, como se pode ver... É certo que não dá para fazer um "Livro de Sonetos" mas deu para quebrar um galho... E até confesso que foi interessante, como exercício poético, mesmo que minha preferência de produção ainda sejam os meus deliciosos e terapêuticos versos livres... Os meus meninos que vagueiam soltos pelo espaço onde se colocam, jamais sujeitos a quaisquer regras...
E sobre as interpretações confusas, que volta e meia fazem de meus conteúdos poéticos, só tenho a dizer que "as coisas nem sempre são aquilo que parecem"... Já dizia Pessoa, com muito conhecimento de causa: "O poeta é um fingidor"... Notem bem que ele disse "fingidor", e, não um fingido. Na escolha do adjetivo está toda a sutil diferença.