Porque essa busca? E o que buscamos? Será que essa busca se justifica, já que buscamos por algo desconhecido? Mas toda manhã vem aquilo. Pode fazer sol, chover bastante, quebrar o carro, cair a torrada com a manteiga pra baixo, e mesmo assim, apesar de tudo, a ànsia esta ali e mesmo sem querermos ou percebermos vem aquilo. Depois de qualquer distração que a vida nos oferece pra tentar tirar-nos da busca, nós, vorazes, continuamos buscando. Não sabemos bem o que. Não sabemos muito bem onde procurar. Não sabemos o sentido da procura. Não temos a mínima idéia do porque da mesma. Mas toda manhã vem aquilo. Nos enche de força, de esperança. Será que não seria mais fácil esperar, rezar, acreditar que cairá do céu? Não, mesmo rezando, esperando e acreditando, levantamos e buscamos, porque no fundo sabemos; só nós, ninguém mais, somente nós mesmo podemos fazer qualquer coisa, ínfima ou infinita, qualquer ato que caiba entre esses 2 extremos, só nós podemos fazer qualquer coisa ou nenhuma por nós, com nós mesmos. Nada externo pode nos tornar melhores, nada nem ninguém. O caminho é único e individual, interno, e nada nem ninguém pode e deve ter a responsabilidade de fazer-nos felizes ou tristes, já que tudo, absolutamente tudo que nos rodeia não faz parte de nós, não somos nós, e tudo que acontece tem que obrigatoriamente passar pela peneira de nossa capacidade de absorção, de avaliação, de digestão. Fácil demais culpar o mundo por nossos desalentos e esquecer dele em nossas conquistas. O inverso também acontece e também não deixa de ser uma ilusão.
Já temos tudo que precisamos, agora, já, nesse instante. Todos nós já temos, sem absolutamente nenhuma exceção. No fundo sabemos, isso que desejamos demais, parece que infinitamente; se pensarmos bem, nos acalmarmos, relaxarmos e tentarmos entender o motivo de tal desejo veremos que no fundo, na verdade, só o desejamos por por algum motivo banal, ou externo a nós, uma vontade coletiva que se transforma em vontade individual. Nos enganamos achando que um carro conversível do ano, um pedaço de pano de alguma loja chique de shopping ou uma jóia cravejada por pedras preciosas que pra chegar ao dedo da madame matou uma dezena de pessoas nos fará felizes, nos completará, nos tornará aquilo que achamos que um objeto inútil desses pode nos tornar, sendo que não passam apenas de um objeto inútil que sustenta uma ilusão ao seu entorno, que carrega uma aura que talentosos publicitários impregnaram em nossa mente como sendo extremamente necessário e importante tê-lo, possuí-lo, ou pra se tornar alguém, ou pra ter poder, ou pra ser feliz, ou pra comer menininhas, ou pra ser respeitado.
Já temos tudo que precisamos pra ser felizes e não precisamos de nada além do que já está dentro de nós. Basta ver, entender, livrar-se das amarras que essa sociedade consumista nos prendeu ao tornozelo. Basta de tentar tapar os buracos dessa nossa percepção com matéria comprada com dinheiro. O que pode modificar nossa vida não é palpável, vestível, usável, pagável. É o que não se vê, apenas se percebe. É abstrato porém mais real que qualquer coisa produzida em série numa fábrica têxtil, por exemplo. Queremos demais ter e esquecemos de ser. Fazemos reuniões mundiais pra tratar do meio ambiente e nos esquecemos de amar uns aos outros. Buscamos técnicas de como despoluir os rios e esquecemos de limpar nossa alma. Invetamos "alimentos" pra nossos computadores mas nos esquecemos de alimentar nosso amor e nossas amizades. Criamos ONGs para transparência política mas evitamos abrir as portas de nossa bondade, de nossa compaixão.
Buscamos, sempre, algo. Pena que sempre buscamos e provavelmente sempre buscaremos de maneira e nos lugares errados. Essa busca é possível até mesmo parado. É só conseguir olhar pra dentro com o olhar certo, que tudo a nossa volta não será mais essencial, e sim apenas um complemento, como é de fato.
T.S.H.