Tinha lido os livros de Bakunin; 3 vezes, todos eles. Achava que Marx tinha escrito seus livros porque era um pobre fudido e estava querendo se ajudar muito mais que mudar o estabelecido. Achava-se um cara inteligente muito mais por achar os outros muito estúpidos. Cabeça raspada e barba, óculos de grau, esbelto, alto, sempre com livros embaixo do braço e com as capas viradas pro sovaco e olhos de um azul estupidamente anestesiado. Inegável que seu estereótipo parecia de um intelectual de esquerda cheio de ideologias e conceitos e sonhos e delírios; chato pra cacete. Na maioria das vezes aquelas já desgastadas bravatas gratuitas. Dê o poder na mão de um tipo assim que a última coisa que ele saberá fazer é governar. Principalmente apoiado nos pilares desse tipo de ideologia. Mas poderia apostar que com o governo na mão, as coisas, ideologias, conceitos, tudo mudariam, não? Poucos sorrisos, sempre andando rápido, indo de algum lugar pra outro lugar. Nunca estava parado, nunca estava numa mesa de bar tomando uma cerveja relaxado, nunca estava paquerando, nunca estava encostado numa árvore fumando um cigarro. _Deixo essas coisas pros fracos! - sempre dizia. Sempre estava andando de algum lugar pra outro lugar, rápido. Fazia faculdade de Relações Internacionais. Lia livros de sociologia, antropologia, filosofia grega e Bakunin, claro, por puro interesse pessoal. Na faculdade nunca se lê esses tipos de livros. Devorava toneladas de alpiste pra alimentar toda sua revolucionária ladainha. Tinha 25 anos e tinha comido não mais que meia dúzia de bucetas na vida. Só queria saber da revolução, da anarquia, de como minar os pilares do capitalismo, de como se entorpecer cada vez mais de baboseira propagandista de esquerda. Juntava os poucos amigos que tinha em casa, chamava-os de companheiros, pra ler textos da revolução cubana, livros de Trotski, Sun Tzu. É impressionante como o ser humano precisa agarrar-se a alguma coisa, alguma ideologia, religião, fé, poder. Se aceita mentiras, absurdos, histórias sem sentido, revoluções, guerras sem motivos, disputas teóricas entre deuses inexistentes criadas pelos homens. De um lado do rio o exército de um país pede proteção divina, enquanto que do outro lado se faz o mesmo. Que prepotência é essa de achar que a SUA prece será "mais" ouvida? Ou que prepotência é essa de achar que SEU deus é melhor e mais poderoso que o do outro? Nós, seres humanos temos medo de admitir nossa inutilidade perante o Universo. Temos medo de ver que somos um acidente de percurso, e que a vida na Terra foi uma combinação louca de probabilidades. Que logo, muito em breve não estaremos mais aqui e o Universo seguirá seu rumo, e acredite, não deixaremos nenhuma saudade porque ele nem notará que um dia estivemos por aqui. Enquanto isso vamos nos agarrando ao que podemos, vamos deixando nossas pegadas que serão apagadas na próxima onda. Vamos escrevendo livros, fazendo filhos, criando ONGs, tudo pra não sermos esquecidos no dia seguinte que partirmos. É, de certa forma, uma maneira egoísta de se perpetuar mascarada em boas ações, em querer ajudar, em procriação. Mentira. É a maneira que inventamos para eternizarmos-nos. É a mentirinha que contamos uns aos outros através dos anos. Se Bakunin não tivesse escrito nada, hoje em dia não teria um babaca como esse idolatrando seus delírios. Filósofos, salvadores da humanidade, intelectuais que nunca escreveram sequer uma linha, como muitos que já passaram por aqui, têm sua obra que foi oral passada boca a boca ou escrita por terceiros, criando naturalmente milhares de edições, já que interpretam o que alguém disse que interpretou que outra pessoa escreveu que interpretou outras escrituras e assim por diante. E nunca cessarão interpretações novas. Já quem escreveu suas teorias, pensamentos, crença, baboseiras, o que quer que seja e etc, tem a obra congelada, petrificada e pessoal, assinada embaixo, por isso mesmo são mais interessantes, mais coerentes perante o pensamento do maluco que a inventou, pois não sofrem de interpretações por motivos escusos, individuais e de interesse pessoal. É aquilo e pronto, está aí pra tentarem provar seus acertos e erros. Mas se você quiser escrever alguma merda também que as invente, não fique que nem um vampiro sugando a loucura alheia e achando tal loucura a verdade universal. Invente a sua. Quer ter pose de intelectual sendo que tudo o que fala foi chupado de um livro qualquer. Seja mais corajoso.
Bakunin é um gênio e o careca metido a intelectual é um careca metido.