Pensei ficar triste com o teu aparente silêncio... Ou até me desesperar. Mas não aconteceu.
De certa forma, tens o perfil dos deuses. Estás "acima"... Portanto, imune aos sentimentos que, inadvertidamente, vivem acometendo os mortais.
Por isso, não me entristeceu a tua ausência. Nem um pouco, por já estar registrada no mapa de meus sensores internos.
Não... Não me entristeci... Sabes por quê? Ora... É óbvio!
Quando chove e as sarjetas da calçada enchem-se de água a correr, não importa à s crianças saber para onde vai a água. Estão encantadas com tanta abundància, que nem lhe olham a direção.
Secas as valas, vai-se o encantamento. Mas todos sabem que não faltarão dias de chuva, para que novamente os barquinhos de papel naveguem a esmo... levando os sonhos infantis.
Na verdade, não brinco mais na chuva. Vejo nisso um possível resfriado. E nem mais lembro se "brincava de barquinhos, na enxurrada"... Hoje, ouço o som triste de um piano que toca uma música doce. Não a identifico, pois é um misto de ternura e clamor, como se as notas se soltassem no infinito e viessem a mim... a envolver-me num derradeiro pranto.
"Onde irá... Onde irá, meu pensamento?"