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Cronicas-->Alumbramento -- 11/05/2010 - 23:10 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nos últimos dias, taciturno, ele ruminava suas idéias. No trabalho, encontrava a força para se repensar e mastigava lentamente, saboreando o ar como se fosse açúcar mascavo. Sua mente fervilhava, ele só não colocava em prática porque não se sabia ainda inteiro. E estava inteiro, de pé, olhando o sol que se punha com esmero, escondido atrás de nuvens de ouro. Todos os que o conheciam notavam que ele estava, digamos, diferente. Afinal, pensava em quê? Tinha os olhos voltados para fora, para os símbolos que a natureza emite vez em quando a uns poucos afortunados que se dignam a lê-los; no entanto, se voltava para dentro em análise minuciosa do que fora sua vida até então.

Sua vida fora uma espera todo o dia, um recolher-se para lançar ao mar as redes em busca do que fora perdido e agora ele se achava em plena colheita do que repousara no fundo, em sua essência, em toda a sua profundeza. Ele tinha certo receio do que ainda não vira e cansado, sabia dos novos limites que atingiria. Daí revisava, elaborava e de certo modo reaprendia. Tomava um fólego que surpreso constatava ainda ter, embora já não fosse jovem. Essa espera, longe de ser estacionária, sempre fora busca permanente. Agora ele se fitava como ao sol se pondo em esplendoroso campo de gemas douradas entre nuvens fluidas do Outono.

O vento batia nas venezianas de sua casa, sibilando segredos que ele não ousava desvelar, pelo menos por ora. Ele ouvia os pássaros ao fundo, na floresta que fazia divisa com seu terreno; andorinhas, pequenos pássaros azulados, pica-paus em pleno juízo, periquitos alvoroçados. A harmonia em pleno entardecer, sorvida em goles de pura essência, condensados em suas mãos qual gota de orvalho da noite que se avizinhava. Ele olhou suas mãos, ranhuras de tecido em permanente mutação, tecelãs de seu destino inexorável, hábeis mãos de cura e suaves de carinho para com os outros; onde o carinho para com ele mesmo, onde as linhas de sua vida se uniriam ao infinito, onde?

Dizem que as paralelas se unem no indizível e agora ele entreabria as portas do sonho em que vivera até então; como não tinha paràmetros para medir (estes vêm do alto, de muito longe) ele raciocinou que talvez o tempo da espera houvesse cessado e sua mutação enfim se completara. "Ledo engano" assobiaram os pássaros, era o que ele pensava. Enquanto olhava suas mãos sem calos ásperas de tanto abrir caminhos, as linhas da Vida se completavam e a previsão que uma cigana fizera de há muito se completava. Casara, vivera feliz, criara filhas, construíra casa e escrevera livros, vários, e semeara entre os dedos as fontes da sabedoria que ora o perfumava. Sim, porque era um perfume que vinha de fora, das damas da noite em sua permanente florescência, dos jasmins que vicejavam entre as janelas de vidro. E então?

Encontrou a resposta no final da escada que conduzia ao seu quarto, onde medravam pequenas plantas que ele organizara por sua influência. Ao final da escada ela o esperava, olhando com seu porte altivo todos os detalhes que podia achar. Lá, no alto, estava como ele, de pé, sorvendo os raios de sol filtrados através da cortina do escritório, em suaves e diáfanas membranas de luz pura, sabedora que ali, como em várias partes, estava o toque de suas mãos.

Puro alumbramento.
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