Talvez minha paranóia esteja quase me convencendo. Sua insistência é de te tirar o chapéu. Mas sei que se sucumbir iria á loucura e me transformaria em qualquer um de vocês. Me parece improvável um futuro digno longe da natureza. É só lá que não há lutas de classe, corrupção, hipocrisia, demagogia, bala perdida, dívidas, polícia, políticos, política. Esses vírus que transformam a sociedade numa velha enferma. Pegue um chumaço de natureza, um punhado de livros, uma confortável sombra, sua mulher, alguns amigos; junte tudo que provavelmente o invólucro da bagaça se chamará felicidade. Ou algo parecido. Agora dê isso á um homem tolo que primeiro ele venderá a sombra, em seguida os livros, depois trairá a mulher, os amigos e pelo fato de ser rico com a negociata da sombra, livros e tal, se sentirá maior que todos, acima do bem e do mal. Mas como dinheiro é um bem finito, quando se ver sem nada, falido, sem titubear ele destruirá a natureza pra conseguir livros e sombra novamente, comercializá-lo-á outra vez para obter dinheiro suficiente pra assim comprar mulheres e novos amigos. É como uma bola de neve viciante. O fim e o princípio de mesclam e se tornam uma coisa só, cíclica. Como quando o cão corre atrás do próprio rabo. Se prestar atenção verás que depois de alguns minutos é o rabo que corre atrás do cão. É falta de lógica, de razão. É esse o processo que inventamos. Somos estúpidos demais pra fazer diferente do estabelecido á séculos. Aquela história de remar contra a maré e tal. Fomos estúpidos demais no momento de sua invenção, e acabamos inventando isso. A criação já foi gerada de forma desastrosa desde o princípio. Nascer, crescer, se formar (quando dá), trabalhar a vida inteira pra comprar uma casa, um carro, cigarros, se aposentar e morrer gordo, careca e burro, entupido de culpa e remorso. A sociedade luta com muita garra pra sua esplendorosa, única e sublime vida se resumir a isso. Induz-te a escrever sua história com a mão esquerda quando destro com caneta sem tinta em papel molhado. Tem que se extremamente forte, perseverante e focado pra não cair nessa armadilha, são raros, não esquecendo um único dia sequer de suas verdades mais pessoais e essenciais; que só você conhece, só você tem acesso, só você pode e deve acreditar com uma sinceridade superior. Por mais conveniente que possa parece, nenhuma verdade além da tua própria serve a você, ou lhe diz respeito. De nenhuma pessoa, grupo de pessoas, instituição religiosa, instituição financeira, banda, programa de TV; nada te servirá como verdade quando a fonte é externa á você. Você pode se cegar e usar a verdade alheia como sua tua por não ser capaz ou não ter coragem de olhar para dentro, remexer as próprias vísceras, cavoucar a costela em busca de sua verdade pessoal, mas mesmo assim outra não se tornará a tua verdade só por conta disso. Auto-engano ou simplesmente estupidez? Quem cogitaria responder ciente que a resposta é um soco no estómago? Quem tem coragem de encarar a viagem pra dentro de si em busca de sua própria verdade? Tic-tac-tic-tac-tic-tac...
