Numa noite, quando já eram vinte e duas horas, Paula não conseguia dormir. Contava carneirinhos como o pai lhe ensinara, virava para lá, virava para cá, e não vinha o sono.
Ana, sua irmã mais velha três anos, sentiu que poderia aumentar a inquietação de Paula que, no seu entender, sentia medo. Os pai há muito dormiam. Só as duas estavam acordadas.
Ana saiu bem devagar do quarto em que dormiam; não fez um ruído sequer para Paula não perceber. Pegou um lençol branco, velho, que se encontrava aposentado, fez dois buracos nele e costurou-o no corpo com pontos rápidos e mal feitos. Caminhou para o quarto, pronunciando:
-- Uau, uau, uau.
Paula, ao vê-la e ouvir o barulho, gritou:
-- Não me pegue, fantasma! Por favor, não me pegue!
Começou a chorar e chamar os pais:
-- Papai, mamãe, um fantasma está no meu quarto.
Ana depressa retirou o lençol e pós-se a sorrir, dizendo:
-- Sou eu, sua medrosa; queria apenas brincar com você e passar um susto. Paula, enfurecida, reclamou:
-- Puxa! ia pular a janela; quase o fiz... só não saltei porque você tirou aquela roupa feia, acendeu a luz e conversou comigo. Não faça mais isso, mana querida.
Ana, com palavras carinhosas e de quem possui mais experiência, explicou:
-- Neu anjo, você ainda crê em fantasmas? Eles não existem, só a imaginãção os cria; é tudo imagem de criança, principalmente quando tomam bastante água antes de deitar-se, ficam pensando coisas, e o sono foge.
Depois de algumas palavras, Paula aceitou, entendeu a brincadeira, concluiu sobre a inexistência de fantasmas e dormiu tranquilamente.
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(*) "Antologia Literária da UNIPAR", volume I, Umuarama (PR),Biblioteca Central da UNIPAR, 1999, p. 124.