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Cronicas-->Marquês de Sade -- 03/09/2010 - 11:10 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu era jovem, descompromissado. Sabia que os dias eram como as nuvens, passageiros, rápidos e livres de qualquer preocupação. Trabalhava então num hospital em que recebia meu salário em "cash", rolos de dinheiro contadinho, como uma gorda mesada. Meu pai já não me sustentava, eu pagava minha própria vida e já podia manter-me, se quisesse. Isto no quarto ano de medicina! Rápido o mundo, fugidio o tempo. Mas estava lá, atendendo minhas fichas sem parar; hoje penso como o conseguia, como pensava tanto em tão pouco tempo...

Havia uma moça que distribuía as fichas e pegava as atendidas para juntá-las todas e organizar os atendimentos. Bela menina, olhos grandes e seios fartos, tão pomposos que chegavam a saltar de sua roupa, não sei se inadvertidamente ou por opção própria. Talvez houvesse ali uma boa dose de sacanagem mesmo porque nossos pobres olhos se fixavam na visão dela e de seu par de companheiros, tão formosos... Irresistíveis...

O olhar foi fatal. Jovem, hormónios em ebulição, coisas que acontecem. Olhares cruzados, aprendi que uma mulher se seduz mais é pelo olhar, pupila na pupila, íris na íris, globo a globo (a vida, afinal, é uma sucessão de acidentes anatómicos!).

Daí ao clássico diálogo surdo, quase sem palavras e a troca de telefones, um passo. O passo seguinte foi o motel. Lá, o que houve foi mais ou menos assim: Ela só se deixaria ser possuída se eu a amarrasse! Meu Deus, é muita coisa para um dia só. De pronto, deixei-a como um porquinho pronto para o abate. Daí, tudo acontece e assim foi, ela em gloriosos momentos me lembrava o tal porquinho, tais os seus berros. Garanto que a vizinhança se alertou, toda. No final, tudo se acalmou e o mundo voltou à sua dormência habitual.

--Você conseguiu!

A rodada seguinte do póquer foi mais solta.

Na outra semana, lá estou de volta e a moça arisca, saltando em outros consultórios, evitando minha companhia. Envergonhada? Não queria conversar? Gostaria de repetir a dose? Como todo homem que se acha esperto, regozijei-me do feito entre meus pares. Foi quando finalmente caí das nuvens:

--Ela pediu isto a você também?
--Como assim?
--Ela pede isso a todos!

Dali por diante, notei os seus defeitos todos.

Devia tê-la deixado amarrada, pago a conta e saído sozinho de lá. Queria ver sua cara dia seguinte.
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