Nada contra as autoridades constituídas, Ã s quais tenho o dever de respeitar. Apenas algumas ponderações faço a seguir:
a) parece impertinência acima do limite aceitável (que o confirmem especialistas e professores de Cursinhos preparatórios de candidatos a cargos públicos), corrigir redações com extremo rigor e exigir dos concorrentes a cargos públicos elevados acertos nas redações, muitos dos quais subjetivos;
b) paradoxal permitir que o deputado eleito Tiririca -- com simples ditado (em local não sabido e em segredo de Justiça) prove que é alfabetizado.
Entre um e outro existe abismo profundo. O primeiro gasta horas, dias, meses e até anos (aí inclusos: português, gramática, redação e literatura). Abstém-se de diversões e prazeres a que o jovem é tentado. Estabelece meta de vida, de trabalho e de estudo (já que muitos dispõem de tempo reduzido, por cedo dedicar-se à faina). No final de tudo, nem sempre é feliz nos resutados das provas redacionais. Corrobora-o o último concurso para o Ministério Público, em que inexplicavelmente quantidade enorme de candidatos não obteve êxito no teste de redação.
O outro, opta por não estudar. Trilha caminho diverso, limita-se tão só a desempenhar o papel de palhaço (a esses briosos profissionais todo o meu respeito e carinho) e a transmitir ao seu público aquelas ingenuidades, que divulgam os veículos de comunicação.
Nada restritivo. Cada um escolhe a sua estrada. É, todavia, responsável pela decisão e não deve receber benefícios em detrimento de indivíduos que se preparam e tentam dominar as dificulddes com fibra, lealdade e idealismo.
Lembro-me do cantor Roberto Carlos (já citado por mim, neste site, na crónica, "Entreter"), ao ser entrevistado há mais de quarenta anos, na época da TV preto e branco. A repórter pergunta-lhe:
-- Roberto, você desponta decisivamente para o sucesso, a que mais aspira para completar essa carreira brilhante?
-- Meu maior desejo é estudar e conhecer um pouco mais de música, para que possa conversar com os entendidos em linguagem idêntica e dizer-lhes o que realmente quero das canções.
Com certeza, isso ocorreu. Hoje, um maestro e diversos músicos integram sua equipe.
O êxito chegou? sim, e ele procurou mantê-lo com humildade, simplicidade, religiosidade, estudo e trabalho.
No Brasil, além da majestade Pelé, o único artista (com toda a deferência aos demais) que é chamado de rei, é o Roberto Carlos.
Enfim, Càmara dos Deputados, que passa por reajuste substancial, é instituição que exige dos seus integrantes muito mais do que se submeter a singelo ditado (em local incerto e sob segredo de Justiça) e tentar provar que sabem ler e escrever.
Desse modo, requer que os seus componentes tenham, entre outros, conhecimento de:
a) administração;
b) contabilidade;
c) direito;
d) economia;
e) finanças;
f) farmacologia;
g) física;
h) meio ambiente;
i) medicina;
j) oratória;
k) orçamento;
l) política nacional;
m) política internacional;
n) psicologia;
o) química.
Ali pode haver alguns elementos que deixem bastante a desejar, e a culpa não é deles somente; também são responsáveis pelos desacertos e desequilíbrios os eleitores que, sem compromisso com a pátria, os escolhem num processo de votos, viciado que não contribui para melhorar as condições de vida do povo.
Há, porém, senhores respeitáveis com mestrado, doutorado, pós-doutorado e até voto de pobreza.
Assim, Càmara dos Deputados não é lugar de palhaço ou cómico iludir a sociedade.
Nada contra analfabetos e semianalfabetos (já contribuí para tirar muitos deles desse estado).
Entendo que é necessário valorizar o saber e reconhecer a disposição para o aprendizado e não, num engodo trremendo, eudeusar o analfabetismo -- doença que exige tratamento urgente e eficaz.
Esse aspecto abominável e prática secular no Brasil relatei, em 1966, com tristeza e revolta, no soneto "Zero", publicado no livro "Magia", Editora Komedi, 2006, p. 126, que a seguir transcrevo:
Zero (*)
Nada somos e pouco possuímos
Nesta existência. Ilusão. Política
Domina. Gente quase paralítica
Vota enganos e espera achar os cimos.
Sujeira grande sempre descobrimos.
Pobre população semi-raquítica,
À mercê de tiranos, nem faz crítica
E emporcalha-se toda em podres limos.
Com o rei na barriga, esses Pilatos
Lhe negam: o leite, o pão, o angu e a sesta;
Maus e hostis, vangloriam-se dos atos.
E há o que vende a honra e até empresta
O nome por um simples par de sapatos:
Antes, um pé; outro, depois da festa.
____________
(*) Brasília, DF, 20/05/1966.
Retrato, também, meu repúdio a esse desprezível comportamento, no haicai "Botina", transcrito a seguir:
Botina (*)
Voto -- uma barganha...
Que lhe importa a eleição torta,
Se a botina ganha?
_______
(*) Brasília, DF, 26/10/2010.
É notório que o Brasil tenta, com muito empenho, desenvolver-se nesse plano e poder sentar-se à mesa dos que compõem o seleto e chamado primeiro mundo.
Que os homens que dirigem nosso destino prossigam no caminho da paz, do desenvolvimento, da justiça e, logicamente, do bem.
Voto é coisa muito séria, precisa e deve ser sempre ideológico e jamais moeda de troca de favores e assemelhados.