Na estante da minha sala, pendurei um banner fotográfico belíssimo.
Exibe uma adolescente encantadora, no tenro frescor.
Poderosa, na sua hora e vez.
O estandarte catalisou o momento mágico. Impregnado de felicidade.
Eis Juliana, linda e serena. Doce menina. Dá vida ao retrato.
Seu olhar denota o enigmático toque da emoção contida.
Sutil. Na mesma estampa, Ã s vezes sorri, Ã s vezes faz cara de choro.
Claro! Ela tem nos lábios carnudos, o sorriso misterioso da Mona Lisa.
Braços cruzados. Voltada para o lado, imita a cena famosa.
Só que esta é a minha Juliana querida! Direi ainda. É Mona Jully.
Rosto perfeito, olhos negros. O olhar abrasador me segue pela sala.
Em vão, tento descobrir segredos da jovem da foto. Guardadinhos.
Sei que nos queremos bem. Embora estejamos nos extremos da vida.
Descobri agora um detalhe importantíssimo.
O banner está justaposto ao espelho. Em forma de gota, na parede.
Assim posso admirar duas Julianas. Uma fora, outra refletida.
A do banner é um encanto. Uma imagem enigmática. Indecifrável.
Impressionante. Sinto-a tão real. Olhando-me sem parar...
A do espelho me atrai. Seus olhos penetrantes clamam pelos meus.
Querem me dizer coisas, sinto. Mas o quê? Conflito de imagens.
A do banner segue os rigores da realidade.
A do espelho é eloquente comigo. Só não consigo ouvi-la. Tudo a ver.
Tem traços de uma musa da mitologia grega. Mas na forma atual.
Dizem que espelho reflete as coisas d´alma.
Esta imaginação terá algum significado maior?
A vaga lembrança de um bem-querer, perdido no tempo e no espaço?
(Da Antologia "Para Não Dizer Que Não Falei De...", lançada na Bienal Rio 2007)