Era casada a moça.
Ela ofertava
Amor à revelia
Do marido;
Com discrição nos
Gestos, nos olhares,
Boa estratégia
De não correr riscos.
O amor tem motivos,
Tem caprichos,
Que desencantam
Na estação madura.
Quando a flor desabrocha,
Traz no viço
Um pouco de ousadia
Ou de aventura.
Nessa atitude,
Sem temer sinistros,
Conduz um deus
Escravo ao seu dispor.
O poder da vontade
Tudo alcança
Na caminhada
Do menor esforço.
A juventude
Não tem só encantos;
Também traz na algibeira
Os seus equívocos;
E num giro qualquer
O mundo avança
Rompendo o véu
Que envolve a fantasia.
Pois o consorte
Que trazia à fronte
O peso da inocência
Nos enfeites,
Resolve de repente
Por cautela
Pór uma pulga esperta
Atrás da orelha.
Em consequência
Aquela deusa musa
Ao perceber vislumbres
De perigo,
Deixa o barco
Do amante solitário,
Remando as mágoas
Postas à deriva.
Mas por revanche
O véu da noite envolve
As esquinas
Com gestos de tocaia.
Caminhos que se traçam
Por atalhos,
Feito o geógrafo
Quando escreve o mapa.
Planeja o desabafo,
Contar tudo,
O obscuro servido
Em pratos limpos.
Mas o tempo, senhor
Dos previdentes,
Traz nova diretriz
Ao seu caminho.
Pondera a força,
O poderoso braço,
Desse filho de Zeus
E de Alcmena;
Recorda a Fábula:
As uvas lá do alto
Estavam verdes,
Não valiam a pena.
Mas vozes delatoras
Madrugaram,
Trazendo à luz
Os fatos escondidos.
E os ànimos do casal
Incendiaram
A palha seca desse
Amor ferido.
Recebe a montureira
Os utensílios,
A montanha final
Dos cacarecos.
Toda herança afetiva
Agora é cinza
Na lixeira final
Dos desafetos.
Era essa a história
Por aqui contada
Com alguns excessos
Engordando os fatos.
Por isso ela transborda
O bom celeiro
Entre as lavouras
De melhor destaque.
O céu escuro
De mil densas nuvens
Prematuro se faz
Neste cenário,
Enquanto a primavera
Colhe um sonho
De fantasia ao peito,
Cultivado.