Não seria um exagero dizer que ela era uma linda mulher. Só que tinha um vício, era só ele que sabia (que privilégio) e só ele desfrutava desta peculiaridade, digamos assim. Ele, quem era, nem sua melhor amiga sabia.
--Adoro homens mais velhos.
--Posso fazer uma pergunta?
--Faz, Anita, faz.
--É bom beijar um homem mais velho?
Ela parava o que estava fazendo, com olhos incrédulos e fitava Anita,com olhos duros e secos, de cima a baixo. Como fazia quando um moleque de sua idade a assediava na rua ou na escola. Tinha um jeito de olhar que assustava os mais experientes e enganava os mais incautos.
--Definitivamente, Anita, você não é normal.
--Ah, não sou eu que dou bola para cinquentões...
--Dou mesmo! Quer saber por quê?
Ela sempre detestou homens mais novos. Tinha verdadeira alergia. Não porque não soubessem fazer, mas porque não faziam nada direito. Ela alegava que eles chegavam depressa demais perto dela, em poucos minutos a cantavam e no minuto seguinte já a queriam na cama. Era lá uma coelha? Pensavam que ela seria uma boneca inflável? Era sim uma mulher inflamável, de alta voltagem. Entregava-se ao prazer como se vivesse o último minuto sobre a Terra e fazia questão de afirmar isso aos candidatos à sua companhia. Enquanto retocava os lábios carnudos, pequenos e proporcionados, de lado falava com desprezo dos mais novos.
--Veja. O último que tive se é que aquilo era homem, me viu diante dele como Vênus oferecida. Não levantou da frente da televisão. Um brocha.
--Mas...
--É, nem em motel a gente ia. Se ia, era para assistir filmezinhos ridículos. Já o homem que eu quero tem de ter classe. Tem de ser educado, porém cafajeste. Tem de me bancar. Tem de me fazer sofrer um pouco...
--Daí a maioria ser de casados.
--Um detalhe. Mas eles preferem assim e eu também. Vai dizer que não presto!
"Você não presta. Veja, perdi meu casamento por sua causa. Minha mulher descobriu tudo, fotografou você me passando a mão na bunda, num bar daqui de perto. A jararaca pediu o que não tenho. Resultado: Vou ter de sair de casa para que ela aceite um acordo. Saio sem nada, sem um tostão. Vai encarar? Uma vidinha a dois, recomeço?" "Caramba, você é bonita hein. Como é bonita! Nossa, por você eu perco minha cabeça. As duas. Puxa vida, estou à s ordens. Que você prefere? Tem casa? Ah, mora com os pais? Sei, sei. Mais tarde eu ligo. Como assim? Não, não estou dizendo que você seja dependente. Não, não... é que... sou envergonhado... Sei, sei. Poxa, mas e então como é que ficamos? Calma, eu não quis dizer isto Espera aí, não diga isso assim...!" "Você tem problema, menina. Não é inventando coisa sobre coisa que você vai ficar comigo. Eu sei muito bem o que você quer; você sabe muito bem o que eu desejo. Sim, quero mulher, você mesma. Como? Vai tomar aonde? Aló?"
--Bom, então, como é mesmo beijar um homem mais velho? Ainda por cima, de barba? Argh!!
--Ah, é aveludado.
--O beijo?
--Não, anta. A barba...
--Beija bem?
Ele me faz um bem danado. Quando me beija, minha barriga se aquece, meus olhos latejam. Meus seios endurecem, ele me desbrava a boca como se fosse um explorador, deixando os caminhos abertos pra meus ais, expondo meus dentes alvos à sua língua esperta... Quando ele me beija, brotam de mim todos os sumos, todas as gotas de um suor espesso que preenche o ar de meus perfumes. Meu coração se acelera, falta-me o ar porque junto aos beijos as mãos me tocam toda, como se fossem animais à parte de seu corpo e seu toque é magnífico, pleno de desejos, é magia pura o que ele faz... Minha alma se desprende de meu corpo, perco o juízo quando seus lábios se encontram com os meus.
--Nossa...
--Pois é. Você acha que um novatinho, desses que aparecem na beira da mesa com a indefectível latinha de cerveja, arrotando de lado e com aqueles olhos nublados de álcool e ecstasy ainda me saciam? Primeiro: Nem vem. Segundo: Nem quero!
--Entendo...
Ela remexe os cabelos dourados de maneira sexy, os cachos lhe caem à frente dos olhos, ela fica com um olho só à mostra... Um permanece na figura, outro se ajusta à moldura do espelho...