...todos. Quarta-feira 16 fui a uma cerimónia de graduação. Claro que somente os envolvidos devem achar muito bom e divertido. E fui porque houvera um convite mais prazeroso, depois da festa. Venho envelhecendo e me dando conta de que a aprendizagem se dá pelo hábito e pela aferição dos fenómenos que se o envolvem. Melhor: só se sabe o que se mede ou se afere. A exemplo da pressão arterial e da frequência cardíaca, só se podem dar a conhecer seu estado se um instrumento de precisão aferi-lo. E se o instrumento também estiver devidamente aferido e avaliado.
Mas nos dias de hoje, as pessoas se divertem com o que é sério e consequente. Refiro-me aos discursos propriamente ditos. O primeiro orador, um professor de Direito, obviamente, confundiu Jesus com Moisés, cometendo um equívoco histórico. Embora, com base em estudos recentes e mais antigos, não se tenha nenhuma certeza da existência de ambos, senão pelas escrituras.
O segundo orador, também coordenador do Curso de Direito da faculdade que oficiava o evento, cometeu um equívoco nominal. Confundiu Fernando Pessoa com Carlos Drummond de Andrade, fechando sua preleção com "tenho duas mãos e o sentimento do mundo".
O evento, barulhento o suficiente para não se ter de prestar atenção no seu conteúdo, chamou-me a atenção exatamente por isso. Não é a primeira vez que me deparo com esse fenómeno da conclusão universitária. Anos passados presenciei uma festa de colação de grau (!)que, a meu juízo, pautou pelo mesmo processo de algaravia, desatenção e "dá de ombros". Parecia um programa de Silvio Santos.
Atualmente, na primeira década do século vinte e um, o alarido é mais importante do que o conteúdo que se o reveste. Imaginem vocês que porventura estiverem lendo isso que escrevo, se depararem com uma festa de graduação vetusta que nem um funeral. Ainda, se supuserem que ando querendo salvar o mundo. Não. Apenas me dou conta de que a dissimulação é enorme em todos os setores. E nós, animais do antropoceno, aceitamos de bom grado, calados e inertes. Nós que nos supomos cidadãos ficamos parados a ver que a colocação de 60 novos bacharéis em direito no mercado, teria sido mera circunstancia e não uma meta pautada na necessidade social. Por fim, para coroar soberanamente a festividade, o músico, que não era tão ruim assim, cometeu um pequeno deslize ao desafinar uma nota, logo onde, numa bela melodia dos Beatles.
Da próxima vez, eu que não tenho que mudar o mundo, mas a mim mesmo, levarei minha super-bond, para tentar colar os fragmentos de dissimulação que nortearem uma solenidade de colação de grau, da qual o próprio Marcus Túlio CíCERO (106-43 ac) se moveria no túmulo, constrangido e para a qual não teria certamente sido convidado.