O dicionário define velório como encontro de pessoas para velar o corpo de um falecido, antes do enterro. Mas, para nossa cultura a palavra velório vai muito além desta mera definição. Geralmente, no velório de um ente querido, costumam aparecer pessoas que o morto não havia há anos somente para dar o último adeus, ao falecido, com um certo grau de pompa. No século dezenove era chique contratar carpideiras, atrizes que choravam e que nem sequer conheciam o falecido, só para derramarem lágrimas nos enterros.
Hoje em dia, há famílias exagerando nos velórios de seus parentes. Dias atrás fui ao enterro de um amigo querido, que não citarei o nome aqui por motivos éticos. Ao chegar ao cemitério, os convidados foram conduzidos a uma capela que mais parecia um palco, onde estava o corpo do rapaz. De repente, a irmã do falecido pegou um microfone e exclamou:
- Agora teremos uma modesta homenagem!
Naquele instante as luzes se apagaram e começou a tocar a música Tears in Heaven do cantor Eric Clapton. De repente, imagens começaram a ser projetadas num telão. Primeiro veio a fotografia do morto quando era bebê, depois quando era criança, após isto quando se formou na faculdade e assim sucessivamente.
Sinceramente, achei aquela homenagem de mau gosto, pois mais parecia uma festa de colação de grau do que um velório. Após esta pequena homenagem, um dos amigos pegou o microfone, com um violão na mão, e disse:
- Agora cantaremos as músicas favoritas do nosso grande companheiro que partiu.
Naquele segundo pensei que o rapaz iria cantar músicas suaves sozinho. Porém, de repente, surgiram no palco homens com outros instrumentos musicais e começaram a cantar músicas agitadas. Mas, me espantei mesmo ao ver que, na entrada da capela, os colegas do falecido estavam distribuindo bebidas alcoólicas.
Na hora do sepultamento, quando estavam colocando o túmulo para debaixo da terra, os amigos do falecido começaram a jogar bandeiras de time e retratos de banda de rock no caixão.
Depois deste espetáculo todo, comentei sobre o caso com conhecidos e eles me falaram que este tipo de mistura de velório com espetáculo está cada vez mais comum.
Infelizmente, nem os enterros estão sendo mais respeitados.
Luciana do Rocio Mallon
