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LÁGRIMA DE MARÇO
Hoje gostaria de escrever uma lágrima, ou pintá-la.
Que fosse redonda, substancial, lenta de cair,
dependurada nos olhos. Sim, eu queria chorá-la.
A sinto em mim, mas ela teima em não nascer do
guerreiro cansado. Meu corpo pesa
como asas molhadas no temporal.
A última ternura que veio, fora de meus cães,
tão distante vai que esqueci-me. No mundo
da escuridão, os filhos de Deus sofrem
para crescer entre os demonios humanos
que de tudo tomam conta e sabem, menos do
amor e de amar, primeiro e segundo mandamentos
ignorados. Essa lágrima se caísse seria dádiva.
Qualquer mulher a choraria fácil. fácil.
Porém em mim ela seca, oprime,
emvão pedindo libertar-se.
Um pouco mais sairei para os combates
Com meu coração invisível aos olhos,
apodrecendo seus tesouros subutilizados.
Amor e alegria, ambos crucificados no tempo.
Porém é preciso por o site no ar...
E a mulher do sonho da noite, que me fitava
com admiração? Ah, era apenas um sonho
e nos tempos que correm cada vez os sonhos são apenas sonhos
e nada mais.
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Zona da Mata, Março de 2011.
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Direitos Reservados
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Do livro "UM ESCRITOR EM LEOPOLDINA"
Hermanita Laura me diz de Buenos Aires que achou bonito e triste
minhas lágrimas de março. Na verdade, escrevi o texto porque me dei conta
que estava com vontade de chorar naquela manhã, uma coisa orgànica
mesmo e não conseguia. Isso deu-me agonia e perplexidade, além
de sentir-me um cidadão digno de novela mexicana. Pois conto
já como a coisa se resolveu dentro do mistério da minha alma,
ao que parece. Nessa mesmo noite, sonhei que uma mulher
do meu passado me recebia numa casa grande e mandava eu entrar,
abrindo uma porta de outra sala e nela estava o Dalai-Lama
e quando o vi desatei a chorar, sem medo nem sensura.
Era um choro puro, sem tristeza nem interpretação.
O caso é que isso limpou-me a alma e consegui resolver
em outro nível o conflito da manhã.
Sei também que o Dalai-Lama estava lá
para que eu não esqueça dos ensinamentos
da nobre linhagem tibetana que comecei a conhecer
em Petrópolis, em 1998. Ou era apenas uma maneira de me libertar
do pesado estigma que "homem não chora" que nos enfiam na cabeça
cedo. Na verdade eu não chorei, apenas abri o berreiro em paz, com direito
a cerimónia e tudo. Realmente, não tenho cabeça para o Big-brother.
Zona da Mata, Março de 2011.
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