"Nessa minha renitência, sempre buscando por respostas, não me resta alternativa, senão a de postular que aquelas cores anunciadas pelos visitantes astronautas existem sim, e que reside nelas a razão dessa alegria e desse bem-estar que vejo estampados em suas atitudes, em seus semblantes e em suas mensagens otimistas".
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A musa Michele, minha esposa, é evangélica; e eu - pelo menos por enquanto - um cristão livre pensador, sem vínculo a igreja alguma. Vez que ela não dirige, levo-a, todos os domingos, no velho Santana da família à sua igreja (Comunidade Cristã de Nova Friburgo). No início, não tendo nada a me atrair ao interior do templo, eu ia para uma lan-house passar tempo enquanto transcorria o culto.
Certa vez, chegamos atrasados à igreja. A primeira parte do ofício é de hinos de louvor, vindo, em seguida, a da pregação, e esta parte estava iniciando quando chegamos, nesse dia, à porta de entrada principal.
Michele desembarcou com a filhota Bia, e eu, por causa do atraso, fiquei entalado no tumultuado trànsito da estreita rua onde está edificada a igreja, sem saber o que fazer para dar passagem ou abrir caminho com o espaçoso carro, que, Ã quela altura, parecia-me um Boeing. Enquanto esperava o trànsito desemperrar, ouvia parte da pregação que alcançava a rua. O pastor falava da importància da família unida diante de Deus, e abordou sobre um tal curso promovido pela igreja chamado "Casados para Sempre".
Saí dali perturbado com aquela pequena parte do discurso religioso, e, da perturbação, veio a decisão de passar a frequentar os cultos junto com a musa, porque - concluí - a minha família tem que ser mais importante que os meus princípios religiosos. Por aí, decidi também fazer o tal curso "Casados para Sempre", referido pelo pastor orador, ainda que fosse pago. Mas não era, e a única despesa que tivemos foi com o valor simbólico da apostila, que serve de guia didático, e com a pequena contribuição, não obrigatória, para a festa de formatura.
Vez que o curso não faz restrição à s crenças religiosas dos interessados, eu, mesmo sem ser membro efetivo da igreja, pude fazer tal curso com a musa. Foram 14 semanas, com uma aula semanal, ao fim do qual, tomamos mais uma decisão: a de nos tornarmos líderes de curso, capacitados, portanto, a atuar também como instrutores.
Há um limite quantitativo de alunos no curso, de não ultrapassar de cinco casais, e as aulas são ministradas na residência do casal-líder. E mais, não posso dizer, porque, logo no iníco das aulas, firmamos compromisso de não divulgar o seu conteúdo didático.
No início do curso, na apresentação que todos fazem de si aos demais, fiquei sabendo que, no grupo, havia um casal, cujos pares, embora já separados, faziam ali uma última tentativa de se ajustarem e retornarem à vida em comum. Ambos começaram a assistir as aulas; ele, sentado num canto da sala; e ela, noutro. Do meio do curso em diante (lá pela sétima semana), já assistiam à s aulas, sentados juntos. No final do curso, ninguém podia sequer imaginar que, semanas antes, estavam separados.
Havia também um outra casal, cujos pares, embora ainda vivendo sob o mesmo teto, andavam à s turras, caminhando para o divórcio. Também estes sentiram, no decorrer do curso, uma transformação para melhor na relação, e hoje nem pensam em separação.
Em relação aos três outros casais, incluídos, dentre estes, eu e a musa, o efeito foi magnífico, tudo isso resultando na nossa decisão de participar do projeto como líderes. O mundo vai caminhando rápido para a dissolução dos valores mais significativos do ser humano, e a família é a que mais sofre nesse processo de desregramento moral. Alguma providência precisa ser tomada, e é aí que decidimos, eu e a esposa, juntar forças.
Para eu me tornar líder, tenho que fazer o mesmo curso duas vezes e ser batizado na igreja, mas isso não constitui impecilho algum, vez que o nosso objetivo, direcionado ao fortalecimento dos laços conjugais e, por extensão, à união de toda a família, está bem acima de qualquer questionamento filosófico religioso. O que atrapalha - e muito - são as dúvidas e questionamentos que residem no meu espírito sobre o conteúdo da Bíblia, principalmente do Antigo Testamento, os quais, até agora, não me foram respodidas de modo satisfatório. Do Novo Testamento, também chamado Evangelho, que vai do nascimento de Cristo à sua ressureição, não tenho dúvida alguma. Tudo o que está ali é perfeitamente claro e constitui um guia espiritual valiosíssimo. Posso até dizer que, apenas por este aspecto, é que me declaro cristão.
Enfim, apesar dessas dúvidas, mas animados por um dos irmãos da igreja, fizemos já o curso prévio obrigatório direcionado à queles que querem ser batizados. O irmão diz que as minhas dúvidas dissipar-se-ão no decorrer da minha caminhada em direção a Deus. É algo ainda a conferir.
O curso preparatório do batismos, fizemo-lo mal e porcamente, vez que, por imperiosa necessidade, faltamos a algumas das aulas; sem contar que, para não produzir embaraços nas aulas, evitei formular certas perguntas perturbadoras ao instrutor do grupo, zelo que impdiu-me de obter repostas a antigas questões. Agora, falta apenas a entrevista com o pastor; e, com este, terei que fazer (e também assim quero) uso da mais consumada sinceridade. Direi a ele que a minha busca espiritual vem de décadas; que, nessa busca, fui, de católico, a Rosacruz, frequentador de centros espírita, bem como de outras igrejas evangélicas - e, nestas, a decepção foi maior quando vi que a fé das pessoas era usada para benefício material dos pastores - esoterismo e até de entidades ufológica, e que quanto mais busco, mais me enredo em dúvidas. Acrescentarei que não me impresionam as curas milagrosas narradas pelos fiéis da entidade, inclusive daquele referido irmão em Cristo, cujo laudo diagnosticando càncer de pulmão, li, e que, hoje, sem ter feito tratamento médico algum, está curado. Esses acontecimentos não me impressionam, porque essas curas também acontecem na Igreja Católica, nos centros espíritas e até em exercícios de auto-sugestão ou pensamento positivo. Que, enfim, o impulso que me leva a filiar-me à igreja - ao batismo, não faço a menor objeção, porque a sua razão está bem explicada nos Evangelhos - reside tão somente na sincera disposição de participarmos, eu e a esposa, dessa obra restauradora direcionada aos casais.
Enfim, se, apesar das minhas dúvidas, aquele compreensivo irmão ex-canceroso tiver razão na sua exortação animadora, quando diz que as minhas dúvidas serão esclarecidas durante a minha caminhada, e se o pastor me aprovar ao batismo, a Igreja da Comunidade Cristã de Nova Friburgo está prestes a receber, nas suas fileiras de combatentes, cuja principal arma é o amor ao próximo, uma dupla muito animada e com muita disposição para praticar o que eles, os evangélicos, chamam de "fé viva", que é a fé com obras.
E as dúvidas, os questionamentos, as contradições, os pontos obscuros e os contra-sensos que vejo na Bíblia? Se eu não encontrar respostas plausíveis a tudo isso, como ficarei? Certamente, hei de enfrentar uma pesada e incómoda frustração; mas, se o pastor me aprovar na entrevista pré-batismal, o peso dessa decepção não pesará tanto, porque, estando em maior convivência com os prestativos e ateciosos veteranos da igreja, sempre restará a esperança de encontrar aquelas respostas. Mas como isso poderia acontecer? A resposta pode estar numa situação hipotética que vi na Internet (e lamento não lembrar o nome do autor). Vejamo-la:
Imagine uma nave, tripulada por alguns dos nossos astronautas, chegando a um planeta qualquer onde os habitantes não enxergam cores. O planeta é coloridos, mas os seus habitantes só enxergam em preto, branco e cinza, que é variação do negro. Está é a hipótese levantada pelo tal autor, e, a partir desta situação, constrúo aqui a seguinte analogia: os astronautas, cuja nave chama-se "Igreja", são aquele que não têm dúvida alguma sobre o que está na colorida Bíblia que usam e que lhes serve de bússola. Identificam facilmente todas as cores e suas nuanças, e sabem o significado de cada uma. Os astronautas mostram a Bíblia à queles habitantes, mas estes, por enxergarem apenas em preto e branco, e, por conseguinte, não terem nas suas ciências nada relacionado a cores, conseguem ler o conteúdo do livro, mas não alcançam a mensagem que lá está, porque está escrita a cores, e, portanto, oculta aos seus olhos.
A partir dessa analogia - e para encurtar essa minha arenga que já passou do tamanho razoável, é fácil concluir que, na minha atual condição, sou um daqueles habitantes do tal planeta, que, inconformado, não aceita a tese ateísta de que tudo começa e termina em preto e branco, ou seja, que tudo o que há no universo existe por puro acaso. Por conseguinte, nessa minha renitência, sempre buscando por respostas, não me resta alternativa, senão a de postular que aquelas cores anunciadas pelos visitantes astronautas existem sim, e que reside nelas a razão dessa alegria, desse bem-estar que vejo estampados em suas atitudes, em suas faces e em suas mensagens otimistas - e aqui abro um parêntese para dizer que não me entra na cabeça a hipótese de que aquela alegria, disposição e entusiasmo que vejo nos frequentadores da Comunidade Cristã possa ser fingimento - que, enfim, eu preciso estar com eles para aprender a ver as cores e identificá-las. Do contrário, mantendo-me na incredulidade, só me restará a opção do ateísmo. Mas este, cujo livro conheço bem, oferece-me a pior alternativa: a de que Deus não existe, e de que tudo o que há no Universo é fruto do acaso; e ainda dizem que essa conclusão baseia-se em postulados científicos escritos em rigoroso preto no branco. E por que digo que é a pior alternativa?... Vejamos o que diz um dos ícones - Galileu Galilei - de uma dessas ciências deles, a Física:
"Se um corpo estiver em repouso, é necessária a aplicação de uma força para que ele possa alterar o seu estado de repouso. Uma vez iniciado o movimento e depois de cessado a aplicação da força, e livre da ação da força de atrito, o corpo permanecerá em movimento retilíneo uniforme (MRU) indefinidamente".
Em outras palavras, para que alguma coisa se movimente, é necessário que alguém dê o peteleco inicial. Aí fica explicado o porquê desse movimento contínuo dos astros no vácuo do espaço sideral. Mas aí também surge a perturbadora pergunta que emudece os ateus: quem deu o peteleco inicial? Se disserem que o movimento inicial aconteceu também por acaso e por si só, estarão contrariando um dos pilares fundamentais da Física, ciência com a qual têm inteira concordància. Por fim, se, por hipótese, alegarem que tudo começou naquela história do "Big-Bang", a tal gigantesca explosão que deu origem a tudo, também aí ficarão em igual situação, porque, segundo o que diz a mesma Física, para haver explosão, precisa haver matéria, já que o nada não explode. Ora! Quem então construiu essa matéria? Observem em que situação ficam os ateus, quando vêem que, numa das suas bíblias mais estimadas, a da Física, em vez de amparo ao que apregoam, há clara evidência de que o tal acaso é uma consumada impossibilidade, e que, se examinarem o postulado científio com maior atenção, verão que há lá alguma tonalidade diferente do preto, do branco e do cinza.
Se, depois de tanta busca, vejo-me, por um lado, ainda caminhando em círculo; e, por outro lado, impedido, pela lógica mais elementar, de admitir a filosofia ateísta de que o mundo, o universo e tudo mais é obra do acaso, mesmo sabendo que o tudo é movimento, e que, para este acontecer, alguém teve que dar aquele peteleco inicial - e este aspecto constitui o intransponível muro que os ateus não conseguem vencer - o jeito é tomar, por base, a partir de agora, neste novo caminho em busca da Verdade, um trecho da Bíblia, que, por acaso, senão por obra do Espírito Santo, me veio à lembrança. Não tendo, de memória, o texto inteiro, senão uma única palavra (sábios), recorri à busca do site Bíblia on Line. Ei-lo:
Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. (Mateus 11 : 25).
É isso enfim: se, com os sábios e entendidos, cheguei a lugar algum; com os pequeninos, segundo o que disse Jesus, e rompendo em fé com as cortinas da cegueira espiritual, hei de encontrar o que tanto busco.