Obrigado, amigo. A matéria "Português em Risco", que gentilmente me encaminhou, retrata assunto polêmico, adverte e alerta a população. É realidade, querido. A culpa pode estar também na escala de valores: enquanto bombeiros, policiais, professores, médicos e lixeiros têm de fazer greve para obter mísero aumento de salário (se o conseguem é temeridade), outros elementos - que deveriam dar exemplo de honradez - aumentam seus ordenados sem nenhuma explicação aos eleitores.
Lembro-me. com saudade, dos tempos da "Fundação Nacional do Material Escolar" do MEC. Havia obras valiosas: dicionários de português, latim, francês, inglês, e respectivas gramáticas; livros didáticos criteriosos, tábuas de logaritmos, matemática financeira, contabilidade geral, história, geografia e desenho. Tudo vendido a preço irrisório nos postos do MEC, aos quais tive prazer imenso de frequentar na adolescência e dividir os minguados centavos na aquisição das obras de que necessitava.
Os autores eram catedráticos e mestres em escolas de renome. Os doutores surgiriam depois, com capacidade meio duvidosa, ressalvadas algumas exceções (como pode alguém que trabalha os dois expedientes fazer doutorado sério?)
Outro dia, numa farmácia, precisei trocar remédio que viera com defeito. Os atendentes, que me conhecem há muito, nada puderam fazer. Só o gerente poderia. Deixei o medicamento com o pedido de que providenciassem a troca. Passados 10 dias (está claro que eu já o havia adquirido em outro lugar), consegui avistar-me com o respónsável. Para minha surpresa, não o trocou: deveria ligar para o laboratório e se ele mandasse outro, aí, sim, ele trocaria.
Aguentei firme. Estava disposto a esperar. Perguntei-lhe em que horário poderia encontrá-lo. Obtive a resposta:
- Não tenho horário. Sou farmacêutico e gerente.
A conversa terminou aí. Pedi o medicamnto de volta. Fui a outra farmácia, na qual eu não o havia comprado, troquei-o na hora sem nenhuma dificuldade. Apenas o farmacêutico comprovou que estava realmente com defeito e me entregou novo produto.
Agradeci-o e não lhe narrei o episódio; porém, com certeza, quando eu tiver de fazer nova aquisição vou procurá-lo.
No caminho, fiquei pensando (não disse nada ao pseudofarmacêutico-gerente): qual das duas profissões ele exercerá com mais desacerto?
Desculpe-me. Os parênteses foram longos. Quis enfocar que ninguém deve subestimar a eficácia. Fazer duas coisas ao mesmo tempo é para privilegiados. Ser gerente e frmacêutico concomitantemente pode não dar certo. E não deu.
A crónica "Pós-graduação de araque", escrita com tristeza, reflete, em parte, esse estado de coisas.
Não vejo, no curto prazo, saída para os crédulos habitantes. Se o governo quiser fazer o país caminhar para o chamado primeiro mundo, terá de valorizar a pesquisa, o cientista, o professor e exigir a revisão dos nossos codigos obsoletos e com penas que são quase um prêmio.
Quem despreza a língua pátria e faz dela palanque de obtenção de votos não ama nem respeita o seu país. Que diriam nossos literatos antigos? Nem precisa citá-los nominalmente. Eram tantos. Muitos emprestaram os nomes respeitáveis à s cadeiras da Academia Brasileira de Letras, hoje cenário desolador. A sua ineficiência é tão grande, que o site "ABL responde" raramente transmite resposta (e quando o faz, não convence), está sempre em manutenção.
O assunto dá para escrever vários capítulos de livro. Mas quem iria lê-lo? Poucos, porque é mais fácil ligar a TV, o rádio e outros mecanismos e receber as informações, nem sempre das melhores, do que estudar certa matéria, compreendê-la e discuti-la nos centros devidos.
Desencantado, vou ficando por aqui. Que Deus olhe por todos!