Tudo é transitório. Impermanente. Hoje estamos aqui, observando o céu, amanhã podemos estar alhures, mais além ou mesmo não estarmos mais aqui, vivos. A vida é um processos contínuo, um milagre que se repete em outras partes. Temos a ilusão de que a consciência é só nossa, quando todo o cosmo nos observa. Todo o cosmo nos olha, nos escrutina, nos aborda. Não temos os ajustes finos para entender sua linguagem. Imaginemos que seres bem mais evoluídos que nós vivem à nossa volta. Eles não entendem nossa transitoriedade aqui. Devem nos considerar insetos, talvez algo mais que uma pedra pensante, tal sua capacidade de raciocinar ou armazenar informações. Talvez dominem a linguagem das estrelas, rebrilhando em cada uma como um núcleo ou passando rasantes a nós, como um cometa ou um bólido prestes a romper nossa casca finita. Suponhamos que tentem o contato. Já tentaram conversar com uma formiga? Ela não entende, continua sua árdua tarefa e vive nas pernas dos outros companheiros de infortúnio. Talvez tudo não passe de diferenças de frequências; talvez tudo não passe de uma enorme defasagem de linguagem. Eles não entenderiam qual a nossa proposta, se subir continuadamente no muro em fila indiana, se correr desesperados em torno de um torrão apodrecido de açúcar, se carregar estabanadamente uma folha de quinhentas toneladas. Eles se entreolhariam, abismados com nossa persistência em continuar, apesar de todos os mortos no tempo, eles se incomodariam com nossa presença muda e esfaimada, grudando em seus dedos invisíveis e correndo ao menor movimento em direção ao mais recóndito refúgio...Como seria então que reagiriam ao nosso atroz mutismo?