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Cronicas-->Maya Desnuda -- 12/07/2011 - 09:37 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Acordei de um sonho estranho. Nele, eu tomava café logo após acordar e uma luz baça iluminava o corredor de uma casa silenciosa onde eu havia chegado, sem precisar muito bem como havia feito isso; parecia haver pousado lá e percorria os cômodos da casa lentamente, silenciosamente. Um candelabro de muitas velas pendia do teto e havia uma mesa, ricamente ornada com frutas prateadas e um jarro; na mesa tomava café um homem velho. Ele suspendeu sua tarefa de mastigar um pão avidamente e me fixou os olhos entre irônico e grave...

--Que está olhando?

Eu mesmo não sabia. Então continuei a mastigar enquanto ele se afastava, em lentos passos, estalando o chão de madeira velho e vencido por eras de caminhantes.

O homem olhava como um sonâmbulo a escada que levava a uma espécie de porto que ficava no andar superior. Podia-se ouvir a água batendo no costado dos barcos amarrados com cordas e o barulho das gaivotas agitadas pela presença de comida. O homem da mesa do andar de baixo chamou as gaivotas, uma delas bordejou a sala de jantar, derrubando um castiçal e levou um arenque. Tudo na sala mesmo, aonde vinham nossos mais ilustres visitantes, como o Tigre de bengala e seu rugido ameaçador...

Maya estava lá. Usava um longo vestido diáfano e me sorria através do véu que ela sempre usava nas ocasiões íntimas. O tigre resmungou quando ela passou. Maya, ilusão, amor de minha vida! Ela, como sempre detestava as coisas pequenas, as questões espinhosas.Preferia o culto à sua beleza: rara beatitude, notável paz nos olhos de água-marinha.

Eu e ela ouvíamos o tilintar da xícara do andar de baixo onde nosso comensal fazia as vezes de anfitrião para uma miríade de seres saídos do labirinto dos espelhos. Uma coruja piava sonora e profunda. O café cheirava forte, sendo moído na hora pelo negro que usava um turbante. Ah, ele não foi mencionado ainda! Maya se ria, desnuda agora, como o quadro de Goya, como numa gravura de Rembrandt. Eu a via, pernas torneadas, riso franco. O velho continuava impávido seu sonho na sala, adormecido no exato momento em que o tigre se preparava para saltar as dimensões todas e voltar ao paradeiro de sua origem. Eu ressonava diante do espelho que mostrava Maya às minhas costas, desnuda. Então, abri os olhos e beijei Maya nas faces.

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