Lembro-me do espanto. Tenho comigo o medo, a muda sensação de impotência, as mãos balançando no ar. Todos os olhos fixavam a tela da televisão, essa arena global em que se transformou o mundo. Todos estupefatos, ninguém acreditaria que um dia pudesse acontecer tal tragédia. Na verdade, eram favas contadas, mais dia, menos dia, alguma coisa como aquela aconteceria. O que ninguém podia contar é que ali se iniciasse um mundo novo,mais ameaçador, mais fragmentário. Naquele dia 11 de setembro, caíram as duas torres gêmeas, as irmãs que, ao cair de uma, seguiu-se a outra, na escuridão imediata que se seguiu.
Ao primeiro impacto, uma bola de fogo enorme trouxe o horror. Uma colega minha passava visita na enfermaria e eu a ouvi gritando:
--Meu Deus, vem vindo outro!
--O quê?
As imagens falaram primeiro; mesmo o mais otimista de nós sabia que ali dentro havia um inferno de corpos, calor, explosões, gritos e poeira. Andares inteiros isolados, pessoas caindo das janelas...Não acreditava no que via, era uma cena surrealista. Não podia ser verdade, era uma ficção, como o foi o pouso na lua. Ou não foi uma invenção?
--"Um pequeno passo para o Homem..."
Foi mais um passo em direção ao abismo. Na escuridão do silêncio sepulcral que se seguiu ao desabamento, ví brilhar nos olhos do presidente americano a raiva, o ódio e a incredulidade. Naquele momento, caiu a máscara da América feliz e altaneira. Ressurgiu a nação militarista e como nunca as liberdades foram duramente atingidas em reflexos que até hoje envergonham o mundo dito "livre".
Faço desta crônica um libelo contra a violência que se espalha em nosso planeta. O mundo islâmico, ameaçado, reage com fervor terrorista. O mundo ocidental por sua vez, agride duramente os povos islâmicos sob o pretexto de libertá-los da tirania assim como a China "libertou" o Tibete do veneno religioso.. Onde isto vai parar senão numa convulsão sem precedentes?
Repensemos nossos valores no mundo. Se quisermos sobreviver nesta imensidão cósmica, se quisermos fazer valer a verdade e a justiça, comecemos por reagrupar nossos desejos mais íntimos. Quem sabe não comece dentro de nós a verdadeira revolução de paz que tanto precisamos?
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