Filho ao pai (sem tempo) *
Menino com voz tímida, olhos cheios de admiração, pergunta ao pai quando este retorna do trabalho:
- Papai, quanto o Senhor ganha por hora?
O pai, em gesto severo, responde:
- Escuta, aqui, meu filho, isto nem sua mãe sabe. Não amole, estou cansado.
- Mas, papai, por favor, diga quanto ganha por hora.
A reação do pai foi menos severa, respondeu:
- Três reais por hora.
- Então, papai, poderia emprestar-me um real?
O pai, cheio de ira e tratando o filho com brutalidde, responde:
- Essa é a razão de indagar quanto ganho? Vá dormir e não me amole mais.
Era noite quando pai começou a pensar no que havia acontecido e sentiu-se culpado. Talvez, quem sabe, o menino precisasse de comprar algo.
Querendo aliviar a consciência dolorida, foi até o quarto do garoto e, em voz baixa, perguntou:
- Filho, está dormindo?
- Não, papai (o garoto respondeu sonolento e choroso).
- Olha, aqui está o dinheiro que me pediu: um real.
- Muito origado, papai (disse o filho levantando-se e retirando mais dois reais de caixinha que etava sob a cama).
- Agora completei, papai. Tenho três reais. Poderia vender-me uma hora do seu tempo?
* Colaboração de Jeannette Marcondes Sigaud, in "Ecos da Chapada", ano II, nº XIII, Alto Paraíso (GO), maio de 2012, p. 3.
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