Habituado à sua rotina monástica, o pequeno monge pegou de seus objetos veneráveis e caminhou.
"Hoje, venerarei a luz do sol, que tanto faz pela terra onde crescem as sementes que alimentam nossas vidas e nos fazem venerar pelo sol e por nossas vidas".
Ele chegou ao lugar onde se venerava o sol. Depôs a esteira de junco aonde se prostrava pela manhã. Também colocou sobre a esteira de junco a pequena tigela aonde estava o arroz sacrificial, o que oferecia logo na hora em que ele comeria;como estava de jejum há dias, aquela era a refeição do sol imaculado.
"Esta é a refeição do sol; este sou eu prostrado diante do verdadeiro rei do mundo, que está dentro e além da luz do sol, está dentro e além de nossas vidas, está dentro e além de meu corpo perecível, está dentro e além de minhas posses."
Prostrou-se o pequeno monge, enquanto os ventos varriam as copas das árvores e formavam manchas na superfície do lago cheio de peixes coloridos. O silêncio enchia o lugar sagrado de paz infinita. O pequeno monge então se concentrou, formando a perfeita imagem do perfeito sol dentro de sua mente, deixando-se levar pela imagem serena, um sol brilhando sobre um lago calmo, dentro do qual os peixes coloridos nadavam sem pressa. Ele deixou sua mente se misturar às cores dos peixes e viu sem nenhum apego as cores dos seixos, o brilho das pedras e mais uma, que estava ao fundo, uma pedra de contornos arredondados, de cor clara e brilhante, talvez um puro diamante valioso...Talvez ele tenha visto assim a fulgurância e a beleza de sua própria essência. Os dias de jejum ajudam o pequeno monge a atingir mais e mais graus de sua perfeição silenciosa;ele faz parte das cores dos peixes, deixa-se rolar com eles pelo fundo do lago e perto, cada vez mais perto, da pedra fudamental, aquela que é a base de sua existência e a dos outros.. Sem mover um músculo, pois que ele já não se apega à ilusão do mundo externo, o pequeno monge sabe que o sol o aquece de dentro para fora e ele pode ver as miríades partículas de luz penetrando em suas veias sagradas e percorrendo seus caminhos interiores até que brilha sua pedra no fundo do lago. Ela emite um som, o som fudamental e inefável, aquele que direciona seu pensamento que não mais existe e é apenas um fluxo, um ponto ou uma linha e ele não pergunta nem se questiona, apenas permanece e é, sem paixão, sem apego, sem limites.
O sol agradece ao pequeno monge e ilumina seus cabelos raros de tanta penitência e dedicação;observa sua oferenda, o arroz cuidadosamente separado por mãos hábeis de artesão do espírito. O pequeno monge então ascende aos céus e como ave, percorre os caminhos maravilhosos que seu destino o fêz cumprir. Agora, ele e o sol são um só e ele sente o quão honrado foi, pela presença daquele pequeno monge vivendo agora, para todo o sempre, dentro do lago em meio aos peixes, iluminando o fundo com seu brilho sereno de pedra filosofal.
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