O Estado de S. Paulo
2/8/2012
DILMA NO ESCURO
Que a presidente Dilma Rousseff foi pega de surpresa com a destituição de Fernando
Lugo da presidência paraguaia, em 22 de junho, todos já sabiam. Afinal, só isso
explica, por exemplo, a açodada decisão de enviar uma comitiva diplomática ao
Paraguai para, noves fora a retórica legalista, intimidar os parlamentares daquele país
e questionar suas decisões soberanas. Mas agora, como mostra reportagem do
Estado (30/7), o País começa a inteirar-se dos motivos do vexame: o serviço de
inteligência e diplomatas brasileiros até produziram relatórios sobre o
recrudescimento da crise e da crescente possibilidade de impeachment de Lugo, mas,
segundo assessores de Dilma, esses documentos não foram encaminhados à
presidente.
O roteiro desse desastre de comunicação pode ser traçado a partir de 15 de junho,
quando um confronto por desocupação de terras na cidade paraguaia de Curuguaty
resultou na morte de 11 sem-terra e 6 policiais. A Agência Brasileira de Inteligência
(abin) produziu nesse mesmo dia um relatório sobre o caso, mostrando que a crise
poderia resultar até no impeachment de Lugo - o presidente do Paraguai, um país em
que a questão agrária é especialmente delicada, foi acusado pela oposição de ter sido
responsável pelo conflito. Esse documento não foi adicionado às sínteses que são
entregues diariamente a Dilma. Ela viajou ao México dois dias depois, para a reunião
do G-20, e nenhum de seus auxiliares a procurou para falar sobre a crise paraguaia.
No dia 20 de junho, antevéspera do impeachment, a abin produziu outro relatório,
mostrando que o processo para o afastamento de Lugo seria mesmo aberto e que ele
havia perdido todo o apoio que tinha no Congresso. Também esse documento não foi
encaminhado a Dilma. O texto, assim como os demais, pousara na mesa do
ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general José Elito,
responsável por repassá-lo à presidente. Elito costuma resumir ou mesmo nem
sequer passar adiante os relatórios que considera irrelevantes, e parece que foi isso o
que ele fez com os documentos que teriam alertado Dilma para a escalada violenta e
irresistível da crise no Paraguai.
O Itamaraty e o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, também não
fizeram muito melhor. O embaixador do Brasil em Assunção, Eduardo dos Santos,
relatou por telefone a Garcia, em várias oportunidades, o que estava presenciando. O
assessor recebeu ainda diversos relatórios do Itamaraty apontando para o
agravamento do quadro, mas Garcia, aparentemente, não conversou com Dilma
sobre o assunto, embora estivesse com ela no México.
Os assessores do Planalto acreditam que tanto Elito quanto Garcia subestimaram as
informações sobre o Paraguai porque o pedido de impeachment contra Lugo seria o
24.. de uma longa lista de tentativas da oposição de destituir o presidente; logo,
segundo esse raciocínio, não daria em nada. Mas a situação de Lugo havia mudado
drasticamente, sem que os auxiliares de Dilma responsáveis por informá-la a respeito
tivessem se dado conta. O apoio político ao presidente paraguaio, que já era mínimo,
foi pulverizado da noite para o dia quando ele trocou o comando do Ministério do
Interior, como reação ao conflito de Curuguaty, e desagradou a única legenda que
ainda o sustentava, o Partido Liberal Radical Autêntico. Tudo isso foi documentado
pelo Itamaraty e pela Abin, mas Dilma não soube.
Esse exemplo de inépcia escancara ao menos dois problemas. O primeiro é que o
estilo centralizador de Dilma parece constranger alguns de seus auxiliares a não
'incomodá-la' com assuntos que ela possa vir a considerar irrelevantes, causando
uma de suas já famosas reações intempestivas.
O segundo problema, muito mais grave, é que a presidente pode estar no escuro não
só em relação ao Paraguai, mas a muitos outros temas cruciais, graças a erros
internos de comunicação. Assim, ela estaria exposta à possibilidade de ter de tomar
decisões importantes sem ter todas as informações necessárias para isso - quer
porque elas estão mal-ajambradas, quer porque elas simplesmente foram
engavetadas por algum funcionário receoso do temperamento da presidente.
Tags
América Latina | Argentina | Bolívia | Brasil | Castro | Che Guevara | Chávez | Colômbia | Colômbia. Farc | Cuba | Dilma Rousseff | Direito | Estados Unidos | Europa | FARC | FHC | Farc | Fidel Castro | Folha de S. Paulo | Foro de S. Paulo | Foro de São Paulo | Hitler | Honduras | Hugo Chávez | Igreja Católica | Islamismo | Israel | Jihad | Lula | MST | Marx | O Estado de São Paulo | O Globo | ONU | Obama | Oriente Médio | Rede Globo | Venezuela | aborto | ahmadinejad | ambientalismo | antissemitismo | brasil | capitalismo | cinema | ciência | comunismo | conservadorismo | cristianismo | cultura | cultural | denúncia | desinformação | direito | ditadura | doutrinação | economia | editorial | educação | eleições | esquerdismo | globalismo | governo do PT | história | holocausto | homeschooling | ideologia | islamismo | liberalismo | marxismo | media watch | movimento gay | movimento revolucionário | nazismo | notícias falantes | notícias faltantes | oriente médio | perseguição anticristã | politicamente correto | racismo | religião | revolução | socialismo | terrorismo | tortura | totalitarismo | 2012
Leia os textos de Félix Maier acessando os blogs e sites abaixo:
Mídia Sem Máscara - Félix Maier
|