Os livros, meus companheiros. Em minhas horas de lazer, eu tinha a companhia de Monteiro Lobato. Quem não se lembra das Reinações de Narizinho e do pó de Pirlimpimpim? Um pó mágico que nos transportava ao fundo do mar, onde Narizinho conhecia o príncipe, ou que fazia espirrar o Marquês de Rabicó! Eu até hoje me lembro da tática para pegar um saci: Compre um samburá, desses que se usa para separar feijão. Quando tiver ventania, olhe quando se forma o redemoinho e jogue lá o samburá. Quando você estiver meio que assim na modorra, se o Saci estiver preso no Samburá, você tira o gorro vermelho dele. Pronto: Tem um Saci que vai lhe fazer todas as vontades...E um saci na mão é melhor do que dois pulando para lá e para cá. E as deliciosas confabulações sobre a natureza das coisas? E Emília sempre brava, ousada e de nariz empinado? Tudo isto eu carrego comigo, está em minha formação cultural. Em nenhum momento me tornei racista, e isto sequer passou pela minha cabeça quando ouvia dizer que Dona Anastácia estava cozinhando seus pratos deliciosos e dando suas enorme gargalhada com as peripécias dos meninos e de Emília, sempre metida a reformar a Natureza...Visconde do Sabugosa, ensine para este pessoal novinho que racismo é uma questão de caráter, não é? É uma questão de princípios. Não se torna alguém racista pela leitura de bons livros como os de Monteiro Lobato. Você pode ler Mein Kampf e não se tornar nazista! Acho que esta atitude é pouco inteligente. Deixemos de lado o preconceito, o nosso, e demos à infância aquilo que lhe é direito legítimo: O dom de voar e sonhar, com ou sem pó de Pirlimpimpim.
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